22/08/2011
Dia seis – Chile – Santiago – Bora e go! A comida endêmica do Boragó
Hoje seria o nosso último dia em Santiago.
E estávamos sem programação determinada (slow travel, minha gente!).
Só nos restou tonar um café da manhã no hotel e ir conhecer o Mercado Central, famoso na capital chilena.
E olha, achamos bem mais ou menos. Tudo bem que devemos dar um bom desconto por ser uma segunda-feira, mas aquilo é quase tudo, menos um mercado.
Os restaurantes dominam todo o espaço (que o diga o Donde Augusto e seus grudentos garçons) e o que sobra, …
… é ver aqueles magníficos e diferentes frutos do mar.
Locos, picorocos, etc. Espetaculares!
Saímos rapidinho de lá e fomos pro Shopping Pátio Bellavista.
Apesar de ainda ser cedo, o lugar é bem bacana e tem umas lojinhas muito diferentonas.
A Dé e especialmente a D. Vera, se esbaldaram e compraram um montão de coisas lapilazulianas.
Ficamos um bom tempo por lá e logo após, rumamos pra outro shopping (é, pra nós paulistas foi um tour praiano), o Parque Arauco.
A intenção seria comprar algumas coisas e almoçar na área de alimentação que é bem bacana.
Fomos primeiro à parte dedicada à casa. O que tem de loja bonita por lá é brincadeira.
A Casaideas é de deixar qualquer um doido e além dela, outros espaços especializados que simplesmente deixam qualquer D&D parecendo as Casas Bahia.
E isto não levando em consideração o mesmo espaço da Falabella que é mais incrível ainda. É claro que compramos um montão de coisas e, infelizmente, o nosso tempo se esgotou.
Antes disso, almoçamos no Le Fournil, que tem uma comida simpática e confortável.
Experimentamos bigs e empanados camarões equatorianos (sic) com os mais diferentes molhos, …
… um tremendo filé ao poivre com os devidos legumes, …
… salmão (eu estava precisando de ômega3) …
… e uma “coxinha” de pato (xiiiii, sócio).
Tudo regado a um vinho tinto Cabernet Sauvignon Cuvée Alexandre Lapostolle 2009 fantástico, mais um vinho fantástico.
Tivemos que voltar pro hotel, pra comprar o restante dos vinhos (o dromedário ainda estava com a corcova vazia) no loja contígua do El Mundo del Vino.
E que loja! Os funcionários são extremamente bem treinados e sempre disponíveis pra esclarecer qualquer dúvida.
Sem contar que a variedade de produtores é absurda.
É um passeio obrigatório pra quem estiver na cidade.
Retornamos ao hotel pra nos prepararmos prum jantar endêmico, quase molecular no Boragó.
Na verdade, chamar a cozinha do Rodolfo Guzman de molecular é quase que uma sacanagem.
Afinal de contas, ele se preocupa em utilizar ingredientes chilenos exclusivos e que representem o vasto território andino (daí o endêmico).
Comer no Boragó é quase igual a ler um daqueles livros divertidos e com um enredo muito bem engendrado.
Toda experiência se inicia com a escolha do menu. A pergunta do garçom (por sinal, todos simpaticíssimos e muito bem informados) é: vocês experimentarão o menu-degustação? Acompanharão com os vinhos?
Sim e sim foram a nossas respostas. E aí nós começamos a prestar atenção no entorno. No ambiente, …
… na horta do próprio restaurante …
… e na pedra.
Na pedra preta que estava bem no meio da mesa.
E sem exageros, ela parecia a grande mestre de cerimônias do jantar; o fio condutor de tudo, já que ficou conosco a noite inteira.
Iniciamos o tour pela gastronomia autóctona (hoje eu estou caprichando) com um agrado do Rodolfo.
Tupinambur assado. Seria um bom sinal?
Deixa eu explicar melhor: na nossa última viagem pro Piemonte, eu comprei uma bandeja deles e trouxe pra fazer um purê. E não é que um deles brotou, eu plantei no meu vaso e um pouco antes de virmos pro Chile, tinha colhido (ou melhor, desenterrado) alguns?
Estes ficaram muito bons, já que foram cozidos e logo após fritos. Pronto pra iniciarmos realmente, nos mandaram os pãezinhos quentes (neste interessante saquinho de padoca) …
… acompanhados dum patê de legumes que representava tanto na textura, como até levemente no gosto, a terra.
Em seguida, um dos clássicos do Boragó: las peras en el olmo.
Um bonsai com peras quase que defumadas e secas penduradas por ganchos. Divertido e muito saboroso.
O próximo prato foi veggie e muito herbáceo. O helechos de pino, suero de leche, apio y pepino foi muito refrescante e o contraste das coisas frescas (pepino, aipo) com o molho de pinheiro foi sensacional. Além da polpa frita do pepino (o dourado da foto) que se assemelhava a uma vieira!
Pra acompanhar, uma sidra Misia Rosario de Curicó. Bem melhor que aquelas espanholas (urgh!) que tomamos.
Mais um prato, o Pejerrey frito ao fuego y emulsion de ajo chilote. Este tem cenografia e ela é justificada.
Afinal de contas, o atendente usa um maçarico pra botar fogo na lenha que está dentro do baldinho e ela solta um aroma muito especial, …
…enquanto você come peixe empanado e com um molho temperado muito gostoso.
Perfeito e ainda mais acompanhado dum Chardonnay Reserva Morandé 2007.
Pra quem achar que é frescura, o cheiro da lenha deixou o prato muito mais saboroso e defumado.
O quarto prato se chamava Nueces, trigo mote y setas. Foi o mais bicho-grilo e veggie de todos, quase que uma desconstrução de cogumelos, pois comemos grãos de milho com pó de cogumelos que ao final davam a sensação de se estar comendo um kibe de shitake.
Todos gostaram (eu um pouco menos), mas o vinho Pinot Noir Anakena 2009 era fantástico.
Continuando, experimentamos um Konzo, pallares, lilaceas de mar y caldo alimonado.
Este konzo é um peixe branco macio e muito saboroso que estava envolto numa capa preta (alguma coisa com tinta de lula) que soltava a sua tinta não só no excelente caldo de limão, como na boca de todo mundo! A junção dos sabores de todo o prato resultou numa delicadeza ímpar.
Assim como a perfeita harmonização do tinto Carmenere Sutil Reserva Especial.
O atendente anunciou antecipadamente o próximo prato. Ele disse: preparem as suas câmeras fotográficas.
É claro que preparamos a nossa. E ela foi necessária, já que a Pieza de vaca al rescoldo de tepu y murra, uma carne cozida por 40 hs é saborosíssima, mas a mis en cene deste prato foi demais.
Após servirem, eles colocam dois recipientes no meio da mesa e além deles parecerem com máquinas de gelo seco, liberam um ótimo aroma de pinho.
O conjunto da obra foi demais e acrescentado pelo fato que como a Dé não come carne, ela recebeu um prato com batatas perfumadas e polvo de rocha.
Um polvo cremoso e saboroso que eu não me furtei de experimentar e aprovar. 🙂
Como todos aprovaram o vinho tinto Cabernet Sauvignon Peres Cruz 2009.
Finalizamos a parte salgada e começaríamos a doce. E estávamos esperando os fogos de artifício.
Iniciamos com acederas, maqui y leche de oveja chilota.
Por incrível que pareça, o destaque desta gostosa sobremesa foi a tal acedera que vem a ser uma erva chilena com folhas bastantes grossas e com um sabor bem ácido, quase uma “assedinha”.
Pra melhorar (se é que isso poderia acontecer) experimentamos algo inédito nesta viagem: um espumante, mais conhecido como espumoso Brut Royal Undurraga que caiu muito bem.
Continuamos a saga “dulce” com harina tostada y pinones araucanos, uma sobremesa bem exótica com sabores particulares.
O sorvete tem como base o licor araucano que foi servido, num agrado, com chancaca e água mineral.
Teoricamente não faltava mais nada. O menu era de 8 tempos e o nosso tempo também já estava acabando.
Foi quando o simpático atendente nos disse a seguinte frase: agora eu é que quero registrar este momento. E nos pediu a máquina fotográfica.
Uau! E agora? Será que vai acontecer alguma coisa bem marcante?
E aí veio o frio glacial. E não era aquele que pegamos por aqui, com inclusive, direito a neve.
O tal frio era um doce muito gostoso e com uma particularidade.
Ele continha umas pastilhas que quando colocadas na boca, nos faziam (literalmente) soltar fumaça pelos nariz e ouvidos.
Nos divertimos muito, assim como o o restaurante inteiro. Estávamos, realmente, sentindo e exalando o frio glacial.
Ainda tivemos o privilégio de conversar com o jovem chef (33 anos) Rodolfo que fez questão de se apresentar, dizer que gosta muito do Brasil e do Atala. Inclusive, tiramos uma foto pra posteridade.
Olha, certamente foi o melhor jantar que fizemos no Chile (e foi um dura concorrência).
Guardadas as devidas proporções, foi como ter ido assistir a um ótimo filme gastronômico, com o bônus de comer toda a cenografia.
Foi deste jeito que terminamos o nosso giro chileno, …
… já que amanhã cedo, teríamos como programa fazer o checkout …
… e zarparmos de volta pra nossas casinhas ferrazenses.
Hasta la próxima!
Siga os dias anteriores desta viagem:
dia primero – santiago – chi-chi-chi-le-le-le. viva chile.
dia dos – chile – santiago – o museu que está na moda. e na neve.
tercero dia – chile – santiago – casas del bosque, a verdadeira viña del mar
dia cuatro – santiago – chile – nada como visitar a concha y toro junto com don melchor
dia cinco – chile – santiago – a terra cercada por água está preta=isla negra.
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Há 14 comentários
Caramba, Edu! Se a viagem toda nao tivesse sido o espetáculo que foi eu diria que tudo teria valido a pena só por esse ultimo dia. Eu costumo ler teus posts e comentar logo. Dessa vez fui lá ler de novo e ver as fotos de novo. Fiquei imaginando Sir Dodo e sua lady Blonde neste local, depois de sua “curta” experiencia com as sauvas de berlim (ok, para quem leu esse comentário e nao entendeu nada, de uma olhada no http://www.comensais.com.br). Eu, particularmente, fiquei com vontade marcar logo uma viagem ao Chile.
Quanto ao tupinambur: nao sabia que tinha florescido. Também o solo de Ferraz se parece demais com o solo italiano, hein!!! Em se plantando, tudo dá! Por outro lado, tendo em vista as “propriedades” do tupinambur, quero saber. Sao mesmo bastante, digamos, explosivas??
Concordo com o Eymard e como já estava planejando ir ao Chile, já vou acrescentar um jantar no no “Boragó”.
Amei!!!! Estivemos lá no sábado passado por indicação de vocês e foi muito, muito legal mesmo 🙂 Também comemos o pão no saquinho com o patê de terra que veio no vasinho de planta rsrs… E as peras, que representavam um ditado chileno que infelizmente não conseguimos achar similar na língua portuguesa. Este peixe konzo com a capa preta de feijão e tinta de lula estava o máximo. O resto foi diferente! Aliás, o frio glacial também comemos 🙂 E o Anakena Pinot Noir foi uma grata surpresa para quem não gosta de pinot noirs, adoramos!! Valeu Edu. Bjs!
Edu,
Por esses descaminhos da vida, nunca estive no Chile. Vontade de ir nunca faltou, mas sempre apareceu alguma coisa para mudar planos e rotas. Mas, daqui por diante,você me deixa sem desculpas. Não bastassem a imponência da paisagem e o grau de civilização da sociedade, você me chega com essa sedução visual irresistível! E uma descrição tão rica das experiências que chego a sentir o perfume dos pratos e a entreouvir o borburinho do mercado, o tilintar dos copos, os suspiros à mesa.
Gracias, hermano! Por sua causa, ganhei a certeza de que, quando enfim saltar sobre os Andes, poderei dizer como Neruda: confesso que vivvi.
Saludos,
Dodô
LucianaBetenson, o que os faz nao gostar do Pinot Noir? Eu gosto muito dessa uva. Depois do pato (nao é edu), minha segunda preferencia sao os pinot noir (rs).
Dodo, se nao pode ser em Paris, que seja em Santiago!
Ha ha, adorei a fumaça… que máximo! A apresentação dos pratos é mesmo um espanto 🙂
Edu, que delícia e saudades do Boragó! As fotos ficaram bem divertidas. Estive lá em maio, graças ao Riq e Destemperados, mas perdi essa super sobremesa glacial.
Assim, vou me juntar ao Eymard, Marcia e Dodô e voltar lá.
Eymard, confesso que aprecio mais os Pinot Noir do Novo Mundo (Chile, Oregon…). Talvez seja a minha realidade preço/qualidade.
Madá e Eymard
Confesso que tenho me esforçado para gostar do Pinot Noir.
Mas tem sido difícil !
Acho que é uva difícil e mesmo os vinhos dessa cepa do Chile e até mesmo do Oregon ainda não me conquistaram !
Edu, esqueci de falar da sua infindável criatividade nos títulos, esse ficou bom demais!
Marcia, vamos tentar juntas 🙂 O Alvaro vai escolher um especial.
Madá, vamos tentar sim !
Mas se for um Puligny Monrachet, um Gevray Chambertin, um Mersault ou um Pommard , acho que não farei nenhuma objeção. Pelo contrário, vou adorar !!!
Tenho até algumas garrafas, vamos marcar ?
Marcia e Madá: tudo tem a hora certa. Inclusive para o Pinot Noir. Particularmente gosto da Pinot Noir para fugir dos vinhos muito encorpados ou amadeirados. Marcia tem razao quando diz que é uva difícil pois alguns parecem ki-suco. Fuja desses. Mas há alguns muito frutados; perfumados e com baixo teor alcoolico. Meus preferidos para dias quentes (que sao em sua maioria os dias de Brasilia). Os “cerejoes”…
Dos Pinot Noir chilenos eu gosto do Tabali.
Sócio, continuo dizendo que o Chile é ¨o¨ país pra se visitar na América Latina. Quanto ao encontro “dodal”, estamos nessa!
Quanto ao tupinambur, sem efeitos colaterais. Pode perguntar pra Dé! rs
Marcia, vá mesmo e depois nos diga como foi tudo. Quem sabe quando estivermos todos em Santiago?
Lu, que legal que você e o Mike gostaram. O Boragó é imperdível.
E parabéns pelo aniversário de casamento.
Dodô, você será o chefe da delegação dCpvomensal de exploração a Santiago. Quando será?
Sócio, pato e pinot. O que que é isso. A língua do P? 🙂
Ameixa, o chef me disse que montar um novo Boragó na Vila Nova de Famalicão. O que você acha? hehe
Madá, vamos pressionar o chefe Dodô (e a chefa Beth) pra marcar logo esta excursão chilena! rsrs
Marcia Lube, eu gosto de pinot e da grande maioria das uvas destinadas a fabricação do mosto delas. Só não aprecio muito a Niagara!! 🙂
Madá, então, vambora! rs
Marcia, Puligny, Pommard? Você ta parecendo o Eymard? E nos convide também pra esta degustação!rs
Sócio, Tabali? Cadê a língua do P? rs
Abs baixinhos e cabeçudos pra todos.
Olá Eduluz,
descobri seu blog através do VnV. Estou maravilhado – pela qualidade dos passeios e das informações postadas. Realmente inspirador…
Fechei ontem minha viagem para Santiago, para este próximo inverno. Minha esposa e eu estamos bem animados, e este seu percurso será de grande valia!
Parabéns, continue postando!
Juliano, gratíssimo. E conte pra nós como é que foi a incursão chilena.
Abs esfumaçados pra você