15/11/2011
Giorno Nove – Roma – Itália – Você conhece Viterbo? Civita? Como se faz um bom azeite?
Acordamos mais uma vez com um tremendo sol. Estava um frio danado, mas o sol atenuava tudo.
Partimos cedo pra fazer um bate-volta bem diferente.
Antes de mais nada, vou apresentar o nosso guia (e uma indicação do Eymard): o Alessandro Barnaba, que nos mostrou as alternativas pro tour de dia inteiro que pretendíamos fazer com ele.
Acabei escolhendo conhecer Viterbo, a cidade dos Papas; Civita di Bagnoregio, a cidade que está desaparecendo (e que é lindíssima) e de quebra, veríamos como é feito o legítimo azeite italiano.
Bom, vamos fazer o mais fácil e começarmos do começo. A primeira parada foi em Viterbo.
Após 1:30 hs e com o carro do Alessandro, chegamos a cidade conhecida pela sua arquitetura medieval e por ter sido o lar de alguns papas durante uma pequena cisão na Igreja.
Ela é toda cercada por muralhas.
Adentramos e passamos pela igreja de Santa Rosa in Viterbo, padroeira duma das maiores festas da região. A Daniella, uma guia local também nos acompanhou …
… e nos contou que todo 3/setembro, cem pessoas (conhecidos como facchini) regidas por um “maestro” transportam a imagem da Santa pelo centro da cidade. É a famosa La Macchina di Santa Rosa.
Isto seria corriqueiro, a não ser por um pequeno detalhe: a imagem dela está no topo duma torre de uns 30 metros de altura, pesando 5 toneladas e é deslocada por todos estes homens, na mais pura demonstração de força, equilíbrio e fé.
É claro que neste período a cidade se transforma numa grande festa e aparecem pessoas de tudo o que é lugar.
Continuamos passeando pelo bonito centro medieval …
… e chegamos ao local onde se realizou o primeiro Conclave Papal.
É claro que o lugar não é uma Capela Sistina, mas mesmo assim, é muito curioso saber que a palavra deriva de “com chave”, ou seja, passaram a chave na porta da sala e os votantes só sairiam de lá após a escolha do papa ter sido deliberada.
Restou observarmos o belíssimo visual da região e …
… da área contígua ao salão.
Demos também uma entrada no Duomo e vimos o túmulo do único papa enterrado lá.
Andamos mais um pouquinho e …
… fizemos um legítimo pitstop no restaurande do grande Gianluca, um italiano adorador de Floripa!
Ele nos ofereceu, além dum ótimo papo, …
… um bom vinho branco da região, …
… queijos das mais variados formatos , …
… e bruschettas com um incrível …
… azeite de primeira prensa.
Aproveitamos pra comprar alguns vinhos do próprio Gianluca, queijos e salames …
do 3DC Gradi (Tredici Gradi), uma loja /restaurante …
… que deixamos na nossa wish list, porque certamente voltaremos.
Sem contar que tudo lá tem procedência e origem, além da chancela do Slow Food.
Nos despedimos da Daniella e rumamos pruma cidadezinha (100 hab?) vizinha, chamada Civita di Bagnoregio (pra quem se lembra, foi uma das locações da novela Esperança).
E por que conhecer?
Porque esta cidadezinha corre o risco de desaparecer. Ela é feita totalmente de material arenítico que se desintegra de acordo com ação do vento.
E também porque ela fica no topo duma montanha e o seu único meio de comunicação com o mundo exterior é uma longa ponte onde só passam pessoas.
A subida é bastante cansativa …
… mas quando se chega lá em cima, a recompensa chega.
Seja através da vista que se tem, …
… seja através de toda a ambientação que te transporta pra Idade Média.
O silêncio é sepulcral e você fica pensando a toda hora se “é verdade que está aqui!”.
Taí um ótimo bate-volta romano.
Ainda fomos brindados com uma luz tão incrível no por do sol que não tive como escapar de um pequeno foto-blog:
Continuamos passeando pelas belas paisagens da região …
…com predominantes plantações de azeitonas e uvas.
E aí tivemos um tremendo bonus no tour.
O Alessandro nos levou à casa dos pais dele …
… e após, a um frantoio …
… que é o lugar onde se faz azeite.
É isto mesmo! Iríamos acompanhar como se faz um azeite e passo-a-passo.
Chegamos ao frantoio após percorremos estradas maravilhosas e com um tremendo poente.
Ficamos surpresos ao ver um barracão pequeno.
A mãe e o pai do Alessandro, a D Mirella e o Sr Alberto (o da esquerda), nos acompanharam e fizeram o meio de campo da visita.
Iniciamos tudo vendo caixas e caixas de azeitonas colhidas fresquinhas.
Note que nesta região, quase todo mundo tem oliveiras no seu quintal e faz o seu próprio azeite. Basta colher as azeitonas e reservar um horário no frantoio pra que ele seja processado.
Pra começar, as azeitonas são jogadas numa espécie de caçamba, …
… e são transportadas e lavadas mecanicamente numa esteira.
Aí acontece a limpeza e separação das folhas e o próximo passo é serem esmagadas (sim, com caroço e tudo).
Forma-se uma pasta que é colocada em círculos sobrepostos(como se fossem filtros), …
… empilhados numa máquina …
… para serem espremidos com força sucessivamente maior até que todo líquido existente nas pastas deixe de existir.
O óleo que sobra (joga-se a água fora) é bastante escuro, …
… mas ele passa por filtros e vai clareando até chegar a esta cor verde maravilhosa.
Justamente neste espaço nos foi perguntado se queríamos experimentar algumas bruschettas?
Eu olhei pra Dé e começamos a dar risadas.
Esta situação seria praticamente um sonho de consumo da Dé, já que ela é uma adoradora incondicional dos azeites.
Quando falamos sim, do nada surgiram pão, vinho e daí a pouquíssimo tempo estávamos comendo a bruschetta com o azeite mais fresco que jamais comeremos, pois o azeite foi retirado da saída do filtro!
Um verdadeiro espetáculo.
Conversamos bastante com todos e ainda tivemos a oportunidade de ver uma outra sala onde o processo para obtenção é totalmente mecanizado.
Segundo os pais do Alessandro, o “olio” obtido através do processo anterior é mais autêntico e se obtém um produto com mais personalidade (o que não quer dizer que este é pior, ainda mais com esta matéria-prima!).
Pronto! A curiosidade estava saciada e a nossa fome também, se bem que eu acho que repetiríamos esta experiência por tantas vezes quantas fossem possíveis.
Voltamos ao hotel com a rapidez necessária, já que tínhamos um dos poucos jantares romanos ditos gastro-chiques.
E era na Glass Hostaria.
Um lugar que realmente nos fez viajar na viagem. Ele é praticamente um estranho na fauna romana.
Vejamos porque:
Ele é modernoso (apesar de ficar no Trastevere); tem uma comida contemporânea (apesar de estar em Roma) e você consegue conversar/avistar a sua chef (que pra variar veio conversar conosco e perguntou sobre o Alex Atala).
Chegamos no horário (desta vez estávamos mais pra ingleses que pra brasileiros) e fomos alojados numa excelente mesa.
Dali tínhamos excelentes vistas do restaurante.
Analisamos o menu e resolvemos jogar o barco nas pedras. Comeríamos trufas brancas. Mas, antes vieram uns amuses.
Escolhemos o vinho (mais um botezinho nas rochas), um branco do Gaja, o Rossij-Bass 2010 de grandes lembranças, né sócios? Como sempre, excepcional.
E uma entrada com Cured white fish, sichuan pepper, edamame, green apple and horseradish granita (não precisa nem dizer que nos confundiram com americanos. Será que eu comi tanto? rs) um tanto quanto maluca pra cidade. O garçom nos disse que tinha acabado, mas ante a nossa cara de desilusão, a chef Cristina Bowerman se apiedou e nos mandou o prato.
Como principais, os tais pratos trufados e brancamente: um risotto with 60’months aged Parmesian Cheese, butter from Isigny, white truffle que estava demais, segundo a Dé.
Eu pedi Seafood Rossini (uma homenagem a nossa cunhada), na verdade, vieiras que misturavam foie gras com trufas. Um must.
A Dé queria passar a sobremesa, mas eu não permiti. Então escolhemos uma saborosa Sopa de Café com Leite Condensado.
Resumo da batalha de gladiadores: o Glass te faz viajar pra fora de Roma, mas não sei se é exatamente isto o que se quer quando se está por lá.
A comida é muito boa, o atendimento é excelente, o ambiente é estiloso, mas cadê o meu Carbonara, o teu Matriciana, a nossa Bruschetta, o nosso azeite?
Arrivederci.
Acompanhe os outros dias desta viagem:
Giorno uno – Roma – Mucho gusto. Molto ‘Gusto.
Giorno due –Roma – A primeira (e a segunda, e a terceira, e a enésima) vez na Pizzerie Bafetto a gente nunca esquece.
Giorno Tre – Roma – Itália – Aquarela do Brasile nos jardins do Vaticano.
Giorno Cuatro – Roma – Itália – A biga moderna.
Giorno cinque – Roma – Itália – Mamma mia na terra dela mesma.
Giorno Sei – Roma – Itália – Ben (o) Hur(so) amico.
Giorno Sette – Roma – Itália – Campo de Fiori, frutas, legumes e verduras, além de queijos e massas.
Giorno Otto – Roma – Italia – Io sono un po’ ubriaca.
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Há 0 comentário
Como bom italiano cheguei as lágrimas com este post!!!! Dia feito para voces. Post feito para nós!!!! Gracie!!!!
Sócio, sabe que também choramos muito! 🙂
Abs emocionados pra vocês
Parabéns pelo post! Fiquei com muita vontade de conhecer Viterbo e Civita di BAgnoregio. Infelizmente, estaremos só de passagem e não pretendemos ter um guia. Você se lembra o nome do frantoio que visitaram e a localização? Achei bem pitoresco e gostaria de visitá-lo também. Vamos em setembro. Abraço, Erika
Ah, Dé! O meu marido também nunca me deixa passar a sobremesa… Mas elas são maravilhosas, afinal! 🙂