final de semana em Brasília
22 a 24/06/2012
ISBSB – Experiências de aprendizagem pessoal e coletiva… Ou, como ser um bom professor! (by Drix)
Aprender é muito mais do que uma apropriação dos saberes acumulados da humanidade. E educar, nas palavras de Leonardo Boff, é ajudar na formação de seres humanos para os quais a criatividade, a ternura e a solidariedade sejam ao mesmo tempo desejo e necessidade. É fazer experiências de aprendizagem pessoal e coletiva. É isso que me encanta na educação. É isso que o ISB tem sido para mim: experiências de aprendizagem pessoal e coletiva. Desde aquele primeiro ISB em São Paulo, quando nos materializamos, venho aprendendo coisas…
Aprendi que podemos conhecer amigos de infância aos 50 anos. Não conhecia Sueli e Jorge e fui recebida por eles, no aeroporto de Brasília, com a certeza de que reencontrava velhos amigos. Não conhecia Lourdes e Eymard e sentei-me à mesa com eles com a certeza de que jantava com velhos amigos. Não conhecia Renata, Débora e Edu e fui ao show de Jorge Drexler com eles com a certeza de que me divertia com velhos amigos. Não conhecia Regina e Mingão e os abracei com a certeza de que abraçava velhos amigos. Só “conhecia” Déo e um dia, em uma de minhas viagens, lhe escrevi um cartão postal com o prazer que escrevo para velhos amigos. E aí tudo começou…
Não nos descobrimos antes por falta de oportunidade, mas certamente o carinho e o desejo de estar junto teriam se manifestado tivesse esse encontro acontecido nas décadas de 1970, 1980, 1990… Mas já naquela época, pensar em fazer parte de um grupo de chefs e apreciadores de vinho seria inimaginável. Naquela época já elegera o filet a milanesa como meu prato preferido. Não me lembro se já tinha me rendido à coca-cola, mas vinho – e qualquer outra bebida – eu “já” não bebia.
Aprendi que a escolha de um vinho envolve um desafio interessante. Vinho e comida devem se completar, um realçando as qualidades do outro. Essa combinação pode se dar por contraste ou similaridade. Chamam esse processo de harmonização. Como na vida, harmonizar pode não ser fácil. Como as pessoas, os vinhos podem ser secos ou suaves, jovens ou maduros, encorpados (existe vinho magro?), Podem também ser frutados. Nada disso diz muito para mim (com relação aos vinhos e não às pessoas, claro), mas como me divirto a cada brinde! Certamente já experimentei mais vinhos do que muitos apreciadores dos mesmos. Mas não desisti: ainda encontrarei um que não me trave a mandíbula (seria sacrilégio esse comentário?). Esse aprendizado continua…
Mas nesse último ISB, novamente em Brasília, o destaque, no meu olhar para nosso almoço, foi perceber que Edu fez de nossos encontros deliciosas aulas sobre o prazer de cozinhar. Não é novidade para ninguém que Jorge, Eymard, Regina e eu sempre nos destacamos na turma pela falta de conhecimento culinário. Mas aos pouquinhos, sem que a gente percebesse, as lições iam chegando. Misturar farofa, fritar bacon, bater bifinhos, despejar ingredientes na panela, mexer a cebola, acrescentar água, pegar folhas de manjericão, bater ovos, cortar tomates… Isso sem falar na aula de como fazer massa. Assim, sem medo de que os alunos estragassem o prato, com palavras de incentivo a cada simples gesto, professor Edu foi nos envolvendo com seu entusiasmo.
A cozinha da casa de Lourdes e Eymard foi testemunha do resultado de nossas experiências de aprendizagem pessoal e coletiva. Logo na chegada, uniforme e material para todos. Delicadeza dos donos da casa. Eymard, o mais estudioso – e com a ajuda de uma professora particular – estudou e preparou-se antes. Mas não por medo de errar. Pelo prazer de aprender. É assim que deve ser. Jorge já transita com desenvoltura pelo espaço. Domina fogão e pia. Faz a lição do começo ao fim! Eu, bem, eu, com a sorte de ter mais uma professora presente em sala naquele dia, aprendi a fazer dois tipos de omelete. Difícil dizer qual foi o melhor (e esse não é um comentário mineiro… os dois estavam mesmo deliciosos). Confesso aos professores que já refiz o exercício com certa desenvoltura. Acho que receberia nota oito. Acertei no sabor, mas preciso treinar um pouco mais a virada dos ovos.
Desde a primeira viagem, desejo da então estudante de Arquitetura, voltar a Brasília é sempre um prazer. Não me canso de admirar o concreto que deu forma ao sonho de Lúcio Costa e Niemeyer. Concreto adornado com a sensibilidade, a delicadeza e as cores de Marianne Peretti, Ceschiatti, Bruno Giorgi, Athos Bulcão, Burle Marx.
Jantar no Grand Cru foi perfeito. Lugar reservado para nosso grupo, o que nos deixou mais à vontade. Minha massa estava deliciosa. O começo não poderia ter sido melhor (apesar da demora no check in no hotel por problemas na reserva). Adoro o Pontão do Lago Sul e seus restaurantes com vista para o Lago Paranoá. Não seria diferente com o SOHO, escolhido para nosso jantar de sábado. Adorei o lugar. Confesso que não estava muito bem naquela noite e surpreendi até a mim mesma: escolhi o prato infantil. Para o almoço de domingo novamente um ambiente exclusivo para nosso grupo, que ganhou a companhia de Gustavo e Karina, filho e nora de Sueli e Jorge, que moram em Fortaleza. Novamente um lugar super agradável, o Oliver, com uma paella que deu água na boca. Mas não resisti ao bacalhau que estava divino. Belas escolhas dos amigos de Brasília.
O city tour de sábado pela manhã seria especial, para Regina e Mingão, que infelizmente não puderam ir. Decidiu-se então por lugares que Edu e Dé não conheceram no primeiro ISB. Iniciamos pela Catedral, para mim, um dos mais belos projetos de Niemeyer. Impossível descrevê-la e o que sentimos quando nos deparamos com seu interior. Aproveitamos a oportunidade e participamos da visita guiada do Palácio Itamaraty, para mim o mais bonito dos palácios, principalmente à noite, quando parece flutuar. Por fim, o Teatro Nacional que me lembra a Huaca Huallamarca, em Lima, e tem um lindo foyer. No domingo pela manhã fomos conhecer a nova torre de TV Digital, também projetada por Niemeyer, e de onde se tem uma linda vista de Brasília.
Um novo ISB, novos sabores, o mesmo encantamento com Brasília, os mesmos sentimentos de alegria e prazer pelo reencontro. Mas desde o momento que comecei a escrever esse post, um desafio precisaria ser vencido: falar do almoço de sábado. Bem… Foi perfeito na hospitalidade, na harmonia, no bom humor, na alegria, nas novas experiências de aprendizagens e nas gougères! Estavam deliciosas! Adorei! Precisa dizer mais? ;- )
Acompanhe o relato dos 3 dias da viagem a Brasília:
Primeiro dia – ISBSB – Lá vamos nós pra Brasília.
Segundo dia – Um almoço ecumênico e miscelânico.
Terceiro dia – A torre Eiffel de Brasília.
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Retomei a poli! Adriana, sempre perfeita. Ops, quase. Em educação nunca se fala em perfeição….afinal esse nao foi o ultimo ISB. Foi apenas o mais recente. Tampo agora preparando o trem bão dimais da conta sô! Nos aguardi!
Com o nascimento, iniciamos o que nós, sociólogos, chamamos de socialização. Começamos a aprender como nos tornarmos membros da sociedade. Iniciamos a aquisição de conhecimentos, padrões, símbolos; maneiras de agir, pensar e sentir, próprias da sociedade e dos grupos nos quais vivemos. Somos, portanto, resultado da interação com os outros em um contexto cultural e social. Esse processo de socialização representa a entrada em um mundo de infinitas experiências e se ele se inicia com o nascimento, nunca tem fim, pois compreende, também, todos os processos posteriores, por meio do qual somos iniciados em outros mundos específicos. Digamos que o “aprender a comer” também faz parte da socialização.
Mesmo nos momentos em que não estamos assumindo nosso papel profissional, não perdemos nosso “olhar profissional”. Quando se tem como objeto de estudo a própria sociedade isso é quase impossível. E foi a socióloga que observou como Gustavo e Renata, por exemplo, experimentam desde a infância sabores desconhecidos para mim até a fase adulta. Comer em restaurantes não era tão cotidiano na minha infância. Até nas viagens de férias cozinhava-se na casa da praia. Vinho definitivamente não era bebida nos almoços de minha casa, mesmo quando os filhos já tinham idade para beber. Meu pai sempre preferiu o whisky e minha mãe, a cerveja. Até hoje, nos aniversários, o almoço na casa de minha mãe tem como cardápio a comida de preferência do aniversariante. A ideia nunca foi experimentar novos pratos, mas agradar preparando aqueles de que mais gostamos. Foi assim que cresci, comendo filet a milanesa com salada de batata, arroz de forno e comidinha gostosa. Foi assim que cresci não bebendo vinho. O ISB veio trazer novas experiências, novos sabores que ainda estou aprendendo a conhecer.
Bem, tudo isso para vencer o desafio de falar do almoço de sábado (e terminar meu post) e dizer, delicadamente: não gostei da entrada de suco de clementinas com cogumelos Paris e Shitake. Definitivamente não gosto de risoto. Mas adoro o ISB e a possibilidade de fazer novos amigos que ele me trouxe. Adoro o ISB e a possibilidade de experimentar novos sabores. E repito: adorei as gougères! Foi o melhor almoço de que não gostei do qual já participei! :- ))
Eymard, e olha que o comentário estava pronto. Era só “recortar e colar”. rs Era o fim de meu post, mas como ele estava enorme decidi deixar o fim para postar como comentário. Consegui: post e comentário enormes! rs
Preciso dar um jeito de colocar fotos nos comentários, né Drix? 🙂
Quanto a não ter gostado de alguns pratos, os próprios já tinham nos informado.
Quanto a gougère, não vale … ela é praticamente um pão de queijo!
O bom de estar entre amigos é isso: poder devolver os pratos quase intactos.
Foto em comentário? Meu sonho!
Mesmo sendo quase um pão de queijo… A gougère estava “bom demais da conta!” :- ))
Adriana,
Que delícia terminar o dia lendo você!
Que delícia ver nas suas palavras o que o mestre Paulo Freire cita: “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”. ” Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
E seus saberes, Adriana, enriquecem os nossos saberes e vice versa. Por isso estamos juntos. Por isso nos completamos. Por isso nos divertimos e nos gostamos.
A curiosidade e a ansiedade de trocar saberes é o que, muito provavelmente, mantem esse grupo tão heterogêneo unido.
Quanto aos omeletes, não se cobre tanto. Que mal faz comê-los tortinhos, queimadinhos, feinhos? Importa que esteja comível e mate a nossa fome.
A gente sempre erra, somos imperfeitos e inacabados. Sempre cometeremos erros, sempre teremos o que aprender e aperfeiçoar. Essa é a graça da vida.
Insista, querida. “Per ardua surgo”.
Grande beijo
Pessoal, como este post se transformou num pequeno ISB, vou deixar as citações de lado e dizer que tudo foi muito legal.
(E não é que o Eymard conseguiu comentar antes do teu post-comentário?? 🙂 )
Abs citados e concatenados pra todos.