21/08/2011
Dia cinco – Chile – Santiago – A terra cercada por água está preta=Isla Negra.
Mais um dia de excursão. Quer dizer, de tour privado. Mas o negócio todo soava bem charmoso.
Afinal de contas, um passeio chamado Vinho, Poesia e Isla Negra não tem como dar errado, né não?
Ou seja, conheceríamos uma vinícola renomada, a Matetic e logo após, a casa de praia do Pablo Neruda em Isla Negra.
Tudo começou como sempre: num bom café da manhã no próprio hotel.
Pra variar, o dia amanheceu lindamente (o detalhe é que tivemos uma hora a menos pra dormir na noite passada devido a entrada do horário de verão) e pontualmente, 9:30, estávamos a postos na nossa van.
Partimos diretamente pro litoral e após uma hora de viagem, chegamos a vinícola Matetic.
E ela é encantadora, pois todo aquele papo de biodinâmica é realmente aplicado na produção.
Tudo se inicia pela localização já que ela fica em Lagunillas, ao lado do Valle de Casablanca.
E neste lugar a água não é abundante, o que acarreta na utilização de poços.
Eles realmente não usam nenhum tipo de fertilizante e se orientam pelas fases da lua.
Todo o projeto foi idealizado pra que a uva tenha os menores trajetos e interferências possíveis, desde a sua colheita manual até a chegada aos barris modernos de aço inox (com o necessário controle de temperatura).
Os barris de carvalho utilizados são franceses e o resultado final é um produto de altíssima qualidade.
Fizemos uma degustação com dois vinhos: um mineral Sauvignon Blanc e um espetacular assemblage de Syrah, Malbec e Cabernet Franc.
Inútil dizer que compramos estes e mais um sensacional e raro Gewustraminer além do premiado Syrah. Enfim, recomendo a visita e as compras!
Como estava muito cedo pro almoço no próprio e aparentemente bom restaurante da vinícola, decidimos (como o apoio do nosso guia que tinha alguns rompantes de Enéas, o ex-craque da Portuguesa, já que também desligava do nada e parava de falar! rs) andar mais um pouco e conhecermos o restaurante da Viña Indómita.
A decisão pareceu sábia, pois além de termos conhecido outra vinícola, ainda comemos muito bem.
Sentamos numa mesa de frente pros parreirais e …
… pedimos um Sauvignon Blanc Reserva da casa.
Enquanto isso, percebíamos a beleza do lugar.
Alem do couvert charmoso, …
… pedimos duas entradinhas pra compartilhar. Salada de figos secos grelhados com queijo de cabra, …
… e rolinhos de palta, o famoso abacate com recheio de centolla, gengibre e beterraba.
Simplesmente perfeitas assim como todo o ambiente.
Todos os principais foram pescados: Peixe de rocha a la Parrilla pra D Vera (puro corporativismo),..
… Tilápia com Quinua pro sr Antonio, …
… Congrio com espuma de cogumelos (adivinha pra quem?) …
… e Polvo com risotto de tomate seco e “aire” de queijo de cabra adivinha pra quem?
Demos mais uma boa olhada em tudo e …
… estávamos mais do que satisfeitos e loucos pra alimentar a nossa alma em Isla Negra.
Portanto, pernas pra que te quero! Mais uma hora de van, mais uma hora (e parodiando o grande Ciro Pelicano) “calando” com o nosso guia e chegamos.
Vamos aos fatos: o que você acharia dum cara que teve amantes, que achava que era capitão de vários navios em terra, que colecionava um montão de quinquilharias e que fazia odes a ingredientes culinários, vinhos e receitas?
Provavelmente, um maluco, certo?
Errado, porque neste caso estamos falando do grande gênio Pablito Neruda.
E eu e a Dé podemos nos considerar privilegiados, pois conseguimos visitar as 3 casas-museu dele: La Chascona em Santiago, La Sebastiana em Valparaiso e agora, Isla Negra.
O encantamento nesta última é surpreendente.
A visita começa (todas são guiadas) pela casa, que foi construída conjugada a uma cabana que já existia quando Neruda comprou o terreno em 1948.
Ele demorou 5 anos pra iniciar a construção. A partir daí e morando com a sua querida Matilda, ele só fez aumentar a casa.
Ela tem o formato de navio e aí você percebe a fissura que Neruda tinha em ser um comandante.
Muitas coisas estão relacionadas com este assunto e ele chega a ter um barco (que nem fica na água, já que ele tinha medo do mar) só pra simular tal função.
As suas coleções (algumas bastantes esdrúxulas, outras muito interessantes) também estão lá. Seja a de carrancas, a de copos, a de cachimbos, a de navios em garrafas, a de conchas, enfim, tudo o que transformou este homem num verdadeiro mito.
E o meu conselho final é o seguinte: deixe pra visitar este casa de Isla Negra após ver as outras duas, já que esta é a mais rústica, mas é certamente a mais representativa de todas, né, Drix?
Ali, ao ver os ambientes com as mais diferentes vistas do mar, você percebe o quanto Neruda foi apaixonante.
E também entende o porque dele querer e ser enterrado definitivamente lá e ao lado da Matilda.
Passamos na lojinha e fizemos o óbvio, o que a maioria das pessoas fazem: compram lembranças pra eternizar este momento.
Voltamos pro hotel, …
… demos mais uma passeada pela região próxima, …
… que é quase um Jardins …
… e nos preparamos pra ir jantar.
O restaurante escolhido (com a indicação da concierge) foi a Tierra Noble, um assador de estilo localizado na Nueva Costanera.
Chegamos e fomos ajeitados numa excelente mesa (ainda mais depois de nos apresentarmos como genuínos brasileiros).
Realizamos um desejo de todos: comer um centolla na parrilla. E ela estava deliciosa.
Ainda mais muito bem acompanhada pelo Sauvignon Blanc Reserva Matetic, daquela mesma vinícola que fomos nesta manhã..
Como principais, resolvemos pedir 2 pratos: um bife de tiras de Wagyu pra D Vera e pro Sr Antonio …
… e Congrio pra mim e pra Dé, com as onipresentes batatas fritas.
Num arroubo, chamamos um Epu, o vinho tinto de segunda linha (se é que podemos denominá-lo assim) do famoso Almaviva. Não preciso nem dizer que o vinho estava maravilhoso, o peixe estava divino e que a carne estava razoável (acho que este wagyu foi alimentado com Pisco! E pior, não tínhamos percebido que eram costelas.).
4 cafés após e estávamos prontos pra dormir o sono dos justos. Amanhã é o último dia da viagem.
Vamos ver frutos do mar fresquinhos, fresquinhos! E Lápis-lazúli, cierto?
Hasta
.
Há 14 comentários
Curioso que pra mim o melhor passeio de longe em Santiago foi visitar a casa do Pablo Neruda e nunca vi ninguém falar sobre o assunto, o DCPV foi o primeiro onde li sobre esta visita! Fui também à casa do Neruda em Valparaiso e ficou faltando La Sebastiana. Que lugar lindo! Precisamos voltar pra ir até Isla Negra. Na próxima viagem pro Atacama será bate e volta em Santiago então não vai dar tempo. Pena! Mas o Boregó está garantido. Um abraço!
Belo passeio o de vocês. E as fotos mostram bem o que é uma vinícula : extensas áreas plantadas que são um colírio (ainda mais num dia ensolarado), técnica e trabalho, muito trabalho.
Fica a sugestão para vocês visitarem a Lapostolle no Vale do Colchagua. Agendar um almoço ou até mesmo passar o week-end em um de seus 4 aposentos. Cenário maravilhoso , acolhedor e encantador. Sem falar das outras vinículas da região como a Viña Montes e do incrível Museu do Colchagua em Santa Cruz.
Voltando do Chile, sempre trazemos umas garrafas do Epú que é realmente um ótimo vinho : é um dos nossos preferidos.
Abraços
Marcia e Vianney
Fiquei até com uma certa dificuldade em comentar neste post. Por vários motivos…. Um deles é que ainda nao conheço o Chile e essa viagem está me animando, cada dia mais, a visitá-lo. Vejo o Sr. Antonio e Dna Vera e imagino logo meus pais, tendo a oportunidade de passear por esses lugares. Claro que Sr. Antonio e Dna Vera, com essas companhias, nao querem outra vida. Também eu nao ia querer. Gostei da foto onde o Sr. Antonio segura, sem cerimonia, a bolsa da Dna Vera.
….depois de “terra em transe” esqueci de dizer que o seu prato nao poderia ter sido outro: polvo em “n” variaçoes…..rsrsrs E o pato mais famoso do mundo fica para 2012!!!!
Já que fui citada… :- ) Pois é, Edu, como escrevi no outro post, para mim, cada uma de suas casas me revela um Neruda diferente. O Neruda comum encontrei em “La Sebastiana”, em Valparaíso. E um de seus poemas mais bonitos, para mim, é justamente “La Sebastiana”. Como pode alguém escrever versos tão bonitos tendo como tema uma porta? Tenho esses versos em um quadro, na porta de minha casa.
“Me dediqué a las puertas más baratas,
a las que habían muerto
y habían sido echadas de sus casas,
puertas sin muro, rotas,
amontonadas en demoliciones,
puertas ya sin memoria,
sin recuerdo de llave,
y yo dije: “Venid
a mí, puertas perdidas:
os daré casa y muro
y mano que golpea,
oscilaréis de nuevo abriendo el alma”
Em “La Chascona” emocionei-me com o Neruda amante, poeta de versos como “Sabrás que no te amo y que te amo, puesto que de dos modos es la vida, la palabra es um ala del silencio, el fuego tiene uma mitad de frio”, dedicados a Matilde.
Mas Isla Negra…Isla Negra é a mais pura poesia. Diante daquele infinito azul não é difícil entender porque Neruda é conhecido como o poeta do mar. “Necesito del mar porque me enseña: no sé si aprendo música o conciencia.”
Como você e Dé, também me considero uma privilegiada pela oportunidade de conhecer um pouco mais de Neruda, ao visitar suas três casas.
Nossa que lindo lugar, estou com vontade de conhecer, quem sabe um dia, com estas dicas fica tudo mais facil, parabens.
Lu, é bom mesmo ter a trilogia das casas do Pablito no currículo. Quanto ao Boragó, o negócio é ir embora pra lá! rs
Marcia, o Valle do Colchágua está na nossa lista chilena. E nós, brasileiros, precisamos aprender a visitar o Chile mais vezes, porque o país é maravilhoso.
Sócio, precisamos marcar algumas reuniões chilenas. O Sr Antonio é mestre em segurar a bolsa da D Vera! 🙂
O patinho foi pra 2012! No problem!
Drix, quer mais do que fazer duma receita um belo poema? Viva o Pablito!
Viagra, este tour levanta até defunto! rs
Abs nerudenses pra todos.
Edu, muito bom!
Eu adoro o Neruda e essa Ilha negra é boa branca e vermelha …
Vale muito a pena a visita a Almaviva, tivemos uma guia brasileira muito simpática. Estive ali perto no El Bosque. Meu sonho é ficar tbem no W.
Concordo com seu incentivo ao Chile. Adorei o Boragó e as dicas do Riq e Destemperados.
Olá Edu!!
Adorei esse post!! Completíssimo!
Segui as suas dicas e contratei a Enotour. Mas fiz um passeio um pouco diferente. Visitei o Valle de Casablanca a e depois fiz um tour por Valparaíso e Viña del Mar.
Infelizmente não deu tempo de almoçar na Indómita. O horário estava corrido… Mas os vinhos e a bela vista do vale valeram o passeio!! As suas fotos de lá estão de dar água na boca!!!
Publiquei um texto no blog de viagens que escrevo sobre o Valle de Casablanca e citei esse seu post. Dê uma olhadinha lá: http://www.nosnomundo.com.br/2012/08/valle-de-casablanca-degustacao-de-vinhos-e-almoco-gourmet-a-poucos-quilometros-de-santiago/
Bjs, Anna Bárbara
Madá, vou aproveitar pra responder um coment teu de nov/11 (rs). Ainda não conhecemos a Almaviva (ainda bem que o vinho, sim), mas iremos na próxima visita a Santiago.Este W é um espetáculo (assim como o de Miami).
Anna, se você foi a Casas del Bosque, fizemos este passeio também (http://eduluz.wordpress.com/2011/10/04/dcpv-tercero-dia-chile-santiago-casas-del-bosque-a-verdadeira-vina-del-mar/).
O teu post ficou muito bom também e vou colocar o Nós no Mundo no meu blog roll, certo?
Grato pela citação.
Abs cercados de água por todos os lados pra vocês.
Edu estarei indo para Santiago dia 21 e vou me hospedar no Ritz , contratei os serviços da Enotour , você gostou ? tem poucas referencias da empresa nos blogs….Enfim adorei as dicas e delicadeza com que trata os assuntos ! Já anotei tudo
Monica, grato pela passagem e no que depender dos nossos passeios, a Enotour está mais do que aprovada. Boa viagem.
Eno-abraços pra vocês.