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a festa de babette by simon. nós perderíamos de novo?

14/09/2012
BSB

A Festa de Babette by Simon. Nós perderíamos de novo?

Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas… Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças… Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida… ” (Ruben Alves). 

O Simon Lau (chef do restaurante Aquavit de Brasilia) pesquisou muito para fazer o célebre jantar de Babette . E a proposta é aparentemente muito simples: assiste-se ao filme e na sequência, ele reproduz o menu ao pé-da-letra.

Pensei: vale o bate-volta até o lago norte. Afinal de contas, é ali mesmo! rsrs
Essa nós não perderíamos
.

E desta vez, não perdemos! Assim que o sócio nos avisou, rapidamente reservamos tanto os convites como a passagem e… pimba, estávamos novamente em BSB.

O restaurante Aquavit fica em um belíssimo recanto do setor de mansões do lago norte de Brasília, com vista privilegiada pro Planalto.

O convite adverte que se pode chegar ou às 19:00 hs para assistir ao filme, ou às 21:00 hs para o jantar.

Como todos tínhamos visto a película, marcamos pra chegar próximo das 20:30 hs no exato momento em que Babette começa o serviço do jantar.

Antes disso, fizemos um “esquenta” aquático no bar do hotel!
Ainda bem que o Simon não exigiu que fossemos a caráter, já que estava um tremendo calor!

Fomos recebidos com champagne, muitos pães feitos por ele mesmo, patê de foie gras e um “perfume” rasante atravessando a sala.

Terminada a sessão e com cada um nos seus lugares marcados, o Simon iniciou a explicação de como seria o menu.

Como entrada, a famosa sopa de tartaruga, a “vera”.

Ele foi buscar uma receita já desaparecida do século XIX (não se preocupe, porque as nossas tartarugas eram todas certificadas pelo Ibama).
A sopa tinha um perfume de cravo e canela, muitas especiarias que aquecem a alma e acendem o paladar.

Tudo acompanhado de um Jerez Amontillado 12 años El Maestro Sierra, espanhol. Amontilladíssimo e jerezíssimo além de thinneríssimo, segundo os enólogos de plantão, nós mesmos.

Na sequência, um Blinis Demidoff com smetana e caviar de salmão acompanhado de champagne.

Reclamamos muito já que o Champagne do filme era safra 1868 e o nosso um pouquinho mais novo (um Piper Heidsieck). :)

O Simon trouxe o caviar de salmão diretamente da sua recente viagem com as bolinhas explodindo nas nossas bocas com perfeição!

O prato principal foi uma atração à parte: Cailles em Sarcophage. Em outras palavras: codornas recheadas com trufas de verão e foie gras, deitadas sobre massa folhada e cogumelos flambados.

Ou seja, era a própria “penosa” num sarcófago!! rs

No filme, o General começa pela cabecinha da codorna
Como a crocância estava perfeita, fiz como ele e sob os protestos da Dé, comi as nossas duas.

Para harmonizar, um Crozes Hermitage 2007, que foi de fato, a companhia perfeita!

Antes da sobremesa, um descansinho: um Assiette de Fromages …

… com vinho do Porto Graham’s Six Grapes.

O Simon também trouxe estes queijos da sua última viagem. É, pelo visto ele tem a mesma mania que nós.

Para fechar, a sobremesa, o Baba au Rum com frutas secas (podemos chamá-las de cristalizadas) e …

… um Sauternes Chateaux Gravas 2006 (Sauternes este de grande lembrança pra nossa família! rs).

Nessa altura já estávamos dançando com os novos velhos amigos comensais.
Mas ainda não tinha acabado (lembra do filme?): café torrado naquela tarde e moído pouco antes de ser coado, acompanhado de madeleines.

O céu estava estrelado (será que estava mesmo?) e saímos de lá entoando a imaginária ciranda-cirandinha!

“Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças…”

Nota de esclarecimento – Desta vez, nós fomos mesmo (quer ver a anterior?). A Lourdes e o Eymard nos convidaram e tivemos que dar “um pulinho” em Brasília.

Foi rápido (fomos na sexta  e voltamos no sábado), saboroso e pra variar, muito divertido.

Até o ano que vem!

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Há 0 comentário

  1. kkk, as fotos, sem dúvida ficaram bem melhores. A companhia, sem dúvida, fez muita diferença nesta festa que foi ainda mais “Babete” do que a do ano anterior.

  2. Desta vez estou convencida! Vocês foram! E ainda bem que não era um ISB para eu atrapalhar o programa! Se falamos de Brasília, o “Coco Bambu” parece-me um cenário mais apropriado para minha festa de Babette… rsss

    O que mais gostei no filme foi o fato das pessoas terem entendido o significado da expressão “Festa de Babette”, É assim como “A escolha de Sofia”. No caso de Babette, as pessoas entenderam que “se pode produzir alegria pela comida” e passarem a usa a expressão para se referir aos mais diferentes tipos de banquetes. Somos “enfeitiçados” por diferentes sabores.

  3. Visão inteligente e sensível de um filme inesquecível. Temos na nossa videoteca e revemos quando precisamos nos lembrar que a vida se dá a quem se da´a ela. Um brinde a todas e todos com Veuve Cliquot 1860.

  4. Sócio, ficaram melhores, mas o lugar era bem escuro! Acho que foi proposital, pra deixar tudo num clima bem “noir”.

    Drix, acho que um filme naquele formato intitulado”A Festa do Coco Bambu” não pegaria muito bem, né? 🙂

    Caro Dodô, santé (com a Viuvinha bem antiga, claro!!).

    Abs festivos e babetianos pra todos, além dum ótimo feriado.

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