número 213
21/01/09
dcpv – Nina Horta: Uma tapas no nosso bar
Todo mundo que gosta de comida/gastronomia/bom texto/sacadas incríveis acompanha a coluna da Nina Horta na Folha às quintas-feiras.Nós ( eu e a Dé) somos umas destas pessoas. Sempre lemos e comentamos internamente com bastante entusiamo (mesmo as mais “PCs”).
Tudo bem que ultimamente ela andou discorrendo (bem também) sobre resenhas de livros, convites para festas (esta foi hilária), etc , mas como ela mesmo escreveu: “o leitor quer um descanso de resenha de livros, de sociologês barato, quer comida barata, isso sim“.
Isto posto, e utilizando como base uma série de receitas que apareceram no excelente texto “Umas tapas no nosso bar” ( crônica do dia 15/01 e que não consegui achar no arquivo da Folha de jeito nenhum. Uma pena, pois o texto é demais ! Em tempo, a Daniela conseguiu e ela está no final do post) , estava dado o motivo pra mais uma das nossas belas noites.
Vamos às tapas espanholas e como não poderia deixar de ser, vou também aproveitar o trocadilho (como a própria Nina o fez) : estes tapinhas não doem!
Como um pequeno beliscão, caipiroskas de limão e melancia by Absolut Vanilia. Simplesmente!
Acompanhadas de azeitonas marinadas (azeitonas verdes, alhos amassados, raspas de tangerina, rodelas de limão, azeite, louro, pimenta em flocos, uma pitada de cominho. Deixar cinco dias marinando) e …
… uma lata de atum (Coqueiro, sim senhor) misturada a cebola roxa cortada e um pouco de vinho tinto (o mesmo que usei na Sangria). A noite vai ser boa … (já dizia Claúdio Zolli).
Como entrada, uma Sopa de Morango com Funcho.
“Sopa fria é com eles (com todo mundo, menos nós). São refrescantes, mas não fazem o nosso estilo. Falta de costume, só isso, ninguém com sede e fome pode dispensar um gazpacho geladinho” escreveu e disse muito a Nina.
Esta sopa tem como base uma xícara de pão velho sem casca e demolhado. Cozido com morangos e batido . O funcho entra cru, fatiado em pequenos filetes. Muito boa e com o calor reinante, mais do que necessária!
.E uma saladinha russa! A famosa e “indefectível” salada russa (batata, cenoura, ervilhas, ovos duros picados e Maionese Hellmanns. É, hoje o jabá está pesado). Como a Nina salientou “sem saber porque, aquela lembrança súbita de almoço de domingo“.
Levante a mão aquela que nunca comeu uma salada russa na casa da mamãe. É realmente uma comida com DNA!
Acompanhamos com um vinho branco Sauvignon Blanc/Chardonnay Mapu 2007 Chile que disse, sou: “cítrico, refreshing, chão de vinícola, mapu tá vinho, jardinesco“.
Como principal (se é que podemos chamar alguma tapa como entrada/principal!), um prato que a Nina mais gosta e que lhe foi ensinado por uma querida amiga espanhola.
Lentilhas feitas com peras duras inteiras, com cabo e tudo e que eram servidas num prato fundo com azeite e vinagre bons, num fio, por cima.
A Nina escreveu ” Uhm” e nós vamos complementando o coro . Hummm! ( o da Nina, não o daquela da Globo).
Pulei a “sardinha frita muito sequinha” (“magina” que a nossa casa iria ficar cheirando “anos a fio”) e o frango do Adriá ( uma Tv de cachorro com um montão de coisas pra enobrecer o molho. Coisas daquele menino espanhol metido a cozinheiro! rs) e fui pro camarão pois era só pegar cumbucas individuais, encher de azeite quente, juntar com alho com casca e uma pimenta inteira.
Depois, levar ao forno e quando ferver, juntar dois camarões também com casca por uns 3 minutos. Pãozinho no azeite e está tudo certo!
Este camarão frito no azeite quente é tão bom que equivale a um tapa de luva de pelica.
Pra acompanhar tapas deste naipe, só uma bela sangria. E ainda bem que não é desatada!
Feita com um vinho tinto Otazu espanhol, rodelas de limão e laranja, suco de limão, açúcar e muito gelo ! Ficou “perfumada, comfortfoodável, sangre bom, bom“.
Como sobremesa e já que a Nina não citou nenhuma na crônica, usei uma das minhas criações (modesto, não?).
Sorvete de mascarpone com calda de goiaba vermelha e açúcar gay. Bom demais!
Nós, como fiéis leitores, não tínhamos pedido esta crônica. Mas agradeço imensamente que alguém o tenha feito, pois através desta solicitação, tivemos a possibilidade de ler um texto excelente e pela primeira vez (talvez isto seja inédito), comer literalmente o texto!
Foi uma noite espetacular!
Leia o comentário dos boxeadores:
Viva as tapas! Abaixo o sociologês! (Edu)
Esse tapa não doeu nada! (Mingão)
Tudo “duca “com o auxílio do Romeu e Julieta desconstruído! (Déo)
Termino com a frase final do texto da Nina:
“Pronto, caro leitor, um dia sem papo cabeça para o seu alívio.”
Os nossos cérebros e estômagos agradecem!
Hasta!
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PS – E como a Daniela enviou (e a própria Nina autorizou) segue abaixo a íntegra do precioso texto:
NINA HORTA
Umas tapas no nosso bar
O leitor quer um descanso de resenhas de livros, de sociologês barato, quer comida barata, isso sim
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UM TAPINHA não dói! Principalmente na Espanha. Comer tapas, tapear, bebericar e conversar. Um cheiro de presunto cru no ar.
Um leitor me escreveu dizendo ter saudades das receitas. Quer receitas? Mas nem pensar em desagradar a um leitor, nem pensar.
Imagino que as tapas espanholas vão caber neste nosso bar.
Duas xícaras de azeitonas verdes marinadas com uns seis alhos amassados, duas colheres de raspa de tangerina, umas rodelas de limão, azeite, louro, pimenta em flocos, uma pitada de cominho. Cinco dias.
Entendi, o leitor quer um descanso de resenhas de livros, de sociologês e filosofês barato, quer comida barata, isso sim.
Os espanhóis têm ótimas coisas em lata, e nós curtimos nossos preconceitos de latarias há muito tempo. Em minha casa, nunca entrou uma lata de extrato de tomate, nem sei o gosto. Em compensação, fizemos uma experimentação às cegas, de atum, e ganhou o brasileiro Coqueiro. Foi uma alegria. É só abrir a lata. Uma cebola terá sido previamente cortada e posta a marinar em vinho tinto. (Para falar a verdade, nem precisa marinar em nada.) Na hora, é só escorrer e misturar. Pode pôr uma colherinha de maionese e umas torradas boas ao lado.
Sopa fria é com eles (com todo mundo, menos nós). São refrescantes, mas não fazem nosso estilo. Falta de costume, só isso, ninguém com sede e fome pode dispensar um gazpacho geladinho. E as invenções em torno dele são tantas. Sopa de morango com funcho, tendo como base uma xícara de pão velho sem casca, demolhado por uns dez minutos e cozido com os morangos em um caldo. Bate-se. O funcho entra no fim, cru, em filetes mínimos.
Muita gente, principalmente os políticos, se lembra da salada russa. Batata, cenoura, ervilhas, ovos duros picados e, talvez, o indefectível atum. Maionese Hellmann’s e amasse bem, não tanto como um patê, mas que deixe as pessoas confusas, sem saber porque aquela lembrança súbita de almoço de domingo.
Uma espanhola querida me ensinou um dos pratos de que mais gosto. Fazia a lentilha com pequenas peras duras, inteiras, com cabinho e tudo. E, na hora de servir, prato fundo, uma concha de lentilhas, uma pera em pé, azeite e vinagre bom num fio, por cima… Uhm.
Um dos melhores petiscos é sardinha frita muito sequinha, que se pode comer toda, inclusive o rabo, mas quase impossível fazer numa casa, pois fica cheirando por anos a fio.
Não adianta um exaustor de última geração. Não adianta. Tudo que é feito com grão-de-bico é bom. Lembro de um espanhol recém-chegado que foi trabalhar na nossa casa e se recusava a comer. “E as codornas com grão-de-bico?”
Sabem que o Ferran Adrià escreveu um livro de comida caseira com ingredientes de supermercado? Por exemplo, compra uma galinha bem assada, pronta. Depois, faz um molho com ameixas, damascos, pignoli, um pouco de raspa de laranja e limão, vinho do Porto, canela, uma xícara de caldo (será de quadradinho?). Daí, separa o frango em partes, arruma numa forma de ir à mesa, despeja o molho por cima.
Dez minutos mais ou menos e pode servir para as visitas. (Chi, esqueci que falávamos de tapas, mas ponha um pedaço em cada prato pequeno e vira tapa.) Detesto galinha com damasco e ameixa; se é para simplificar, deixa com farofa mesmo. Não falei em camarão por causa do preço, mas pode-se pegar uma cumbuca individual daquelas pequenas, encher de azeite quente, juntar um alho com casca, uma pimenta inteira. Levar ao forno e, quando ferver, juntar dois camarões também com casca por uns três minutos. Uma cumbuca por pessoa, claro. Comer com pão.
Pronto, caro leitor, um dia sem papo cabeça para o seu alívio.
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Há 11 comentários
Ólá, caríssimos DCPV-anos!
Saudades de ver esses cardápios de vcs, ams estou meio farrapeira nos blogs amigos – aliás, ando assim até no meu!!!
🙂
O que é esse camarão, hein? Para mim, superou todas as outras tapas, fiquei com água na boca! Parece divinoooo… sem contar a simplicidade, né?
Beijos para vcs!
Edu, os tapas (as tapas?) ficaram excelentes. Vontade de sentar em Madrid no balcão daqueles bares cheios de pontas de cigarro no chão e pedir tapas e tomar vinho…. mas chega de sonhar, não?
Queria seu e mail para enviar uma prévia de cardápio, afinal março está por aí e não dá para ficar discutindo aqui.
bjs
Salada russa também é muito usada aqui em Portugal 🙂 Eu adoro com muita maionese he he Mas esse camarão… aiii que maravilha!
Sensacional o menu. Pontos altos no camarão e na sobremesa.
Márcia do Guigão, nós sabemos ( e todo mundo que é pai, sabe!) como é difícil conciliar o papel de mãe com o de blogueira. Portanto, não se preocupe, continue cuidando bem do futuro centro-avante do Timão e quando der um tempinho, faça o camarão que você tanto gostou e que, além de ser fácil, é uma delícia !!
Márcia, a do Idéias, já te mandei o meu -email. Espero que tomemos vinhos e comamos tapas mineiros por aqui. Vamos ficar devendo o chão cheio de bitucas !! rs Mesmo porque o DCPV é totalmente anti-tabaco !!
Ameixa, coincidentemente o prato que mais ativou a memória do pessoal foi a salada russa ! E o camarão, claro !
Leo, é uma comida trivial, mas nem tanto rs. Quanto ao camarão, a própria Nina disse que fomos bonzinhos demais. O camarão original do prato é pequenininho e feito em cumbuquinhas também minúsculas.
Abs a todos.
Edu, babando no camarão.
Achei a coluna da Nina e estou enviando por e-mail.
Abs,
Daniela.
Hola Edu, que delicia de arroz.
Me ha encantado.
¿No tienes la receta?
Me gustaría hacerlo.
Un abrazo.
Margot
Daniela, grato pelo envio da coluna que foi anexada ao post com a devida autorização da própria autora, a Nina.
Margot, não entendi. Qual arroz você quer a receita? É deste post?
Grato pela passagem e abs a todas.
Edu, pelo jeito o camarão foi desejado por mim e por todo mundo, hehe…o menu todo está apetitosíssimo, aliás, onde você acha sorvete de mascarpone? Ou você faz em casa?
Sobre gazpacho, adoro! Mas não é todo lugar que faz bem. Mas um daqueles deliciosos botam qualquer preconceito abaixo 😀 Aliás, o Marc anda ameaçando preparar um clássico da vó dele, borscht. E é ameaçar mesmo, já que neste caso o preconceito não é contra a sopa gelada, mas contra beterraba. Pois é…mas sei que um dia ainda vou adorar a danada 😉
Emília, o camarão é aquilo que chamamos de comfort food. Fácil de fazer, lindo e melhor, gostoso de comer ! Ah! O subproduto dele, o azeite com alho e pimenta é facilmente deglutido com um bom pedaço de pão italiano.
Quanto ao sorvete, faço em casa mesmo. É só usar uma base normal e acrescentar mascarpone !!
A Dé adora beterrraba. Eu só como crua !!
Abs.