número 170
20/02/08
dcpv – Borgonha + Borgonha = Dobradinha!
“Berço de dois vinhos mais reputados e caros do mundo, o tinto Romaneé-Conti e o branco Montrachet, pode-se dizer que a Borgonha se traduz em sua rica gastronomia e em seus grandes vinhos “.
Esta é a frase inicial do livro “Os sabores da Borgonha” do chef (hoje no Skye da “melancia” Unique) Emanuel Bassoleiul que é indicado pra quem gosta de cozinhar, pois tem um montão de receitas tradicionais da Borgonha (6% do território francês, 1600000 habitantes e localizada na Grande Leste, conjunto formado por Alsácia-Lorena, Champanhe-Ardene e Franché-Comté ) e pra quem gosta de viajar, pois as primeiras 70 páginas são praticamente um guia desta bela região com indicações de passeios, hotéis, restaurantes e muitas outras coisas.
A Borgonha gerou Napoleão Bonaparte, os prêmios Nobel Romain Rolland e Louis Renault, Gustave Eiffel (o da torre), Colette (a escritora, não a loja!) e a mostarda. E como aqui é uma confraria eno-gastronômica, vamos aproveitar e utilizar mostarda (a l’ancienne, tradicional e em grãos) .
Infelizmente (pra nós, principalmente), o Romaneé Conti ficará pruma próxima vez! Bon apetit!
Un – Entradas – Cougères en couronne e Soupe au lard
Voltando a escola de idiomas dcpv, vamos à aula de francês: Gougères en couronne nada mais é do que uma coroa de Gougéres ou melhor, uma rosca de pão que resulta muito próxima de um pão de queijo grande e leve. Uma mistura básica de manteiga, água, sal, farinha de trigo, ovos e queijo gruyére (do sex shop, óbvio!).
E a Soupe au lard é uma sopa de toucinho que vai um monte de legumes (cebolas, cenouras, alho-francês(aprendi!), nabo, repolho verde), água, toucinho, joelho de porco (isso mesmo, eisnbein!), bouquet garni, cravo, sal e pimenta .
Uma sopa portentosa, saborosa e que segundo o chef Bassoleuil é uma “receita sempre presente na hora do jantar na casa dos agricultores da Borgonha. Ela só é o prato principal“. Ele tinha me dado a pista! Eu explico melhor mais pra frente!
E pra acompanhar um Muscadet Sevre Et Maine 2006 Les Carotiers que foi, segundo os perfumados ou seja, nós, “vert, mineral, vegetal, gostoset“.
Deaux – Principale – Tripes à la bourguignonne
Continuando com o francês, Tripes é o que você imagina que é mesmo: tripas ou melhor, dobradinha! Portanto, a tradução é Dobradinha à moda de Dijon. São dobradinhas cortadas finas, fervidas, empanadas na farinha de rosca, cozidas em manteiga e fritas em óleo quente. E com um molho Bourguignonne tradicional ou seja, echalotes (diretamente do sex-shop), manteiga, alho amassado, sal , pimenta e flambado com conhaque.
“Pra montar o prato é só colocar as tiras (as terríveis dobradinhas) fritas, dispor o molho quente por cima finalizando com salsinha picada e servir com uma salada de alfaces crespa e frisée. Ah ! Não esquecer de acompanhar com mostardas de Dijon extra-forte e a l’ancienne.” (rs,rs,rs!!), escreveu Bassoleiul.
Onde foi que eu errei ou o jogo dos 7 erros
1 – Este prato (a dobradinha) deveria ser a entrada e não o principal.
2 – Consequentemente, o prato principal deveria ser a sopa.
3 – Na execução da dobradinha, pulei a parte de cozinhá-las na manteiga. Resultado: ficaram duras pra chuchu!
4 – Não coloquei a salsinha.
5 – Não servi as mostardas.
6 – Não temperei corretamente a dobradinha. Ficaram, além de duras, um tanto quanto sem graça!
7 – Como gostamos de tudo (exceto arraia!) não perguntei pro Mingão se ele gostava de dobradinha e descobri que ele odeia dobradinha (mesmo frita).
Resultado: eu e o Déo (que gostamos) tivemos que comer tudo, inclusive a parte do Mingão. Nossas mandíbulas estão doendo até agora de tanto mastigar!
E é claro que a Dé também não gosta em hipótese nenhuma!
Mas, sou teimoso e ainda farei esta dobradinha do jeito certo, quando o Mingão não estiver por perto!
E, continuando, tomamos um Chateau La Bastide 2003 Corbiéres que aparentou ser “amanteigado, frutas vermelhas mesmo,francês da Guiana, franc-forte ” segundo os dobradinhas, nós.
Trois – Sobremesa – Flamuse
Praticamente uma cuca só que de maçãs verdes (Granny Smith). Leva açúcar, farinha, manteiga, ovos e leite. É uma sobremesa honesta. Não muito mais do que isso!
A sorte dela foi ter sido acompanhada por um belo shot de Absolut Vanilia que dispensa qualquer comentário.
Resumindo: foi realmente uma comida camponesa e como não somos homens do campo (remember Dom e Ravel!!), o jantar teve um resultado bastante desigual. Na seca: não foi bom mesmo!
Sopa ótima, crocbradinha duríssima (inclusive de engulir) e sobremesa razoável! Que saudades da comida Portuguesa!
E pra tornar o post (pelo menos) mais informativo e ao mesmo tempo me desculpar pelo “esquecimento”, seguem abaixo os tipos e utilizações das mostardas:
à l’ancienne : carnes vermelhas e cozidos
tradicional de Dijon : carnes, peixes, legumes e saladas
estragon : aves e carnes brancas
poivre vert : carnes vermelhas e grelhados
miel : carnes brancas e assados de porco, frango e coelho
fines herbs : saladas
basilic : carnes, salsichas, linguiças e frios em geral
provençale : peixes, crustáceos e queijos
A salada acima estava deliciosa e pasmem, o Mingão escreveu que a “dobradinha foi honesta, melhor que a da D Isaura!“. E deve ter sido a melhor dobradinha (e a última) que ele comeu na vida!
Até a próxima! Até a próxima! (Só pra não esquecer da dobradinha!)
.
Há 11 comentários
” Que saudades da comida portuguesa” – Dá alegria a qualquer português ler essa frase!
Sobre o comentário desaparecido, eu vi o seu recado e a resposta, obrigada.
Beijocas
Post engraçado, principalmente a parte que descreve a saga da dobradinha! Vivendo e aprendendo…
abs.
Marizé, chegou uma hora em que estávamos pensando no teu menu ….
Nina, foi engraçado mesmo pois as mandíbulas trabalharam bastante. Mas reafirmo, vou fazer do jeito certo e tenho certeza que ficará bom ! ( Quer dizer, certeza mesmo eu não tenho, não !)
Foi “A dobradinha”.
Concordo com o Mingão. Dobradinha… deixa pra próxima.
Abraços
Oi Eduardo,
Tudo bom?
Aqui é a Francine da Salem Guerrilha (www.salem.com.br), e estou trabalhando na divulgação do novo filme de Marcos Jorge, o “Estômago”, que foi premiado no Festival uruguaio de Punta del Este.
Gostaria de convidá-lo para uma data que preparamos para alguns blogueiros / alguns moderadores de comunidades no Orkut que achamos que se interessariam pelo filme.
Eu prefiro passar mais detalhes, como data e horário, por e-mail. Você pode entrar em contato comigo pelo francine@salem.com.br?
Se quiser, assista a uma palhinha do filme no site da produção, o http://www.estomagoofilme.com.br.
Aguardo seu retorno! 🙂
Caro Eduardo,
Só hoje vi a sua resposta, por distracção minha. O tempo não tem sido muito!
Peço desculpa pelo atraso mas amanhã mesmo terá a minha sugestão que estou a ultimar e que será uma refeição de Páscoa, Portuguesa, como se fazia antigamente e ainda se vai fazendo, aqui e ali.
Abraço
Hehehehe, coitado do Mingão… o mais esfomeado ficou prejudicado dessa vez. Ô Mingão, da próxima, faz que nem o meu pai: antes de sair de casa come um sanduichinho, pra não correr o risco de passar fome na casa dos outros, hahahahahahaha!!!
Abração
Michel, foi a única vez que o Mingão pensou que dobradinha não significava comer duas vezes !
Francine, já mandei o e-mail !
LPontes, menú Português de Páscoa das antigas ! Uhmmmm!
Estamos esperando.
O Mingão espera que você não indique dobradinha (rs).
Diogão; o Mingão não comeu o sanduiche antes mas, em compensação, comeu toda a Coroa de Gougéres. Não sobrou nadica do pão de queijo francês, oui sô !!!
Eu fiquei com água na boca de ver as fotos, e não sabia do tal livrinho do boticário, pena que nem deve existir mais, gostaria de ter um.
Abraços
Essa da dobradinha foi demais 😀 Eu estou numa fase de superar antigas antipatias culinárias e só estou esperando uma próxima oportunidade de dobradinha (ou quem sabe buchada?) para experimentar sem preconceitos. Mesmo não ficando 100%, a receita até que me animou, tentem novamente!
Adorei a sugestão do livro, já vou passar para o meu querido. O sangue dele é alsaciano, mas ferve pela Borgonha 😀
Nani, vou procurar o livrinho e assim que eu achar, te mando uma cópia ! Ele é bem bom !
Emília, o livro é bom mesmo ( apesar do regionalismo do Bassoleuil. Você já conhece os franceses…). E a dobradinha não vai me dobrar (ui!!). Farei novamente do jeito certo e a comerei galhardamente !!! ( se bem que se não der certo de novo, já viu…)