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dcpv – da cachaça pro vinho – o sabor do perfume, a fragrância da comida

huuuuuuuuuummmmm, que cheirinho gostoso!
31/07/10

dcpv – O Sabor do Perfume, a Fragrância da Comida.

Já aconteceu de você passar um perfume e lembrar de alguma comida? Ou de fazer aquela refeição e ela estar tão cheirosa que mais parece um frasco do melhor perfume?
Pois esta foi a ideia central do jantar especial que fomos no Paladar – Cozinha do Brasil.

Era o Scent Dinner (segundo o pai dos burros ingleses, scent é: substantivo – perfume, aroma, odor, fragrância; verbo – farejar, cheirar, pressentir, sentir pelo olfato, ver sinais de). Só o convite já era instigante pois uma das indicações é que os participantes não poderiam usar nenhum tipo de perfume.
Chegamos (eu e a Dé) às 20:30 hs no restaurante Kinu do hotel Grand Hyatt São Paulo. Inesperadamente não éramos nós que estávamos atrasados; era o próprio jantar.
Ficamos tomando um espumante no bar (encontramos o Leo e a esposa, velhos conhecidos dos Gastropop por lá) e depois de meia-hora, nos chamaram. A mesa era única (mais ou menos 30 pessoas participaram) e aí o enigma foi desvendado.
O crítico de perfumes do NYT, o Chandler Burr seria o elaborador do menu de perfumes e o chef Simon Lau, do restaurante Aquavit de Brasília, criaria o cardápio gastronômico propriamente dito.

Mas como? Dois menus?
Deixa eu explicar melhor: o eixo principal seria, primeiramente, o Chandler mostrar através de papeizinhos (aqueles mesmos que voce utiliza pra sentir o aroma dos perfumes quando quer comprar algum) de quais elementos principais eram formados os perfumes e logo após, o próprio perfume no seu formato comercial. Concluindo, o Simon soltava os pratos com as receitas que ele criou e que incluiriam tanto os elementos formadores do perfume como o resultado final dele. Entenderam?

Vamos ao jantar. Iniciamos com o Chandler mostrando os cartões (um a um) com cheiros de cenoura, zimbro, cassis e pêssego e que formaram o perfume Jardin sur le Nil da Hermes. Em todas as demonstrações ele tentou obter dos presentes quais seriam este elementos antes de dizer quais eram. E ele é muito comunicativo além de arranhar o português e o espanhol (parecia até um daqueles personagens com sotaque carregado!) e falar muito bem o italiano e o inglês, óbvio!
O prato gastronômico? Simon nos mandou um Sorbet de casca de  manga verde, purê de cenoura, esfera de cassis e uma calda de zimbro.

Excelente e certamente, a pura representação do perfume no prato.
Continuamos com o Chandler nos fazendo utilizar o olfato em vários tipos de menta e nos mostrando o perfume Menthe Fraiche by Heeley.
O Simon não se fez de rogado e harmonizou com 2 caipirinhas de cachaça (só pra confirmar. Eu sei que caipirinha só pode ser da “marvada”), sendo uma de hortelã e outra de menta e acompanhadas dum stick de mandioca com casca ralada de limão.

Mais uma fragrância, a L’eau de Tarocco by Diptyque, que era composta de vários cítricos e baunilha. E o prato foi um Pirarucu marinado com raspa de limão tahiti e de mexerica cravo servido com gomos de mexerica cravo marinado em infusão de gengibre e caviar de Piranha. Prato, perfume e apresentação espetaculares.

Como complemento e por incrível que pareça, acrescentando mais glamour ao jantar, a perfeita harmonização do sommelier Rodrigo com um vinho branco Chardonnay Cobos Felino 2009 Mendoza. Preciso!

O último perfume da primeira parte do jantar foi apresentado pelo Chandler. Foram 3 cheiros, entre eles a baunilha. O perfume era o Eau de Shalimar by Guerlain. Junto com uma pescadinha com feijão fradinho em creme de baunilha do cerrado (já ouviu falar?), foie gras grelhado e espuma de jasmin, resultou numa inusitada combinação da baunilha com o feijão e realmente espelhou o que sentíamos quando cheiramos o perfume. Surpreendente!

Assim como perceber que o Cobos Felino Chardonnay continuou se infiltrando e bem, entre os odores formados pelo prato. Paramos por aqui e por enquanto.
Foi anunciado um intervalo de 15 minutos pra espairecermos e aguardarmos o que aconteceria no segundo tempo.

Logo de cara uma surpresa: ninguém poderia sentar no mesmo lugar e muito menos ao lado das mesmas pessoas.
Resultado: a Dé teve o prazer de sentar ao lado da simpatícissima Liana Sabo, jornalista gastronômica do Correio Braziliense, e eu, surpreendenemente pois não o conhecia pessoalmente, ao lado de um dos meus ídolos gastronômicos, o Luiz Américo Camargo, o crítico do Paladar do Estadão. e certamente o melhor do Brasil com opiniões criteriosas e isentas de qualquer jabá. Se o jantar já estava bom, conseguiu ficar melhor ainda!
E o jantar recomeçou no mesmo nível. O Chandler  distribuiu 4 papéis com as fragrâncias canela, baunilha, cravo e limão. E nos perguntou qual perfume seria formado com a junção destes elementos? Todos começaram a opinar e finalmente, após a confirmação dele, chegamos a um veredito: Coca-Cola! Isto mesmo! Faça esta experiência em casa e você se surpreenderá!
Aproveitando o mote, o Simon limpou o nosso paladar com um sorbet/sorvete da própria, a Coca-Cola. Tem coisa melhor pra desempenhar esta função?

Continuamos a saga com o sexto prato da noite (e tudo estava tão divertido e instrutivo que a Dé nem reclamou).
Antes dele mais um leilão de odores que Chandler promoveu já que a cada fragrância ele perguntava a todos que cheiro era aquele? Era um tal dos mais díspares palpites até que um nariz virtuoso conseguia chegar ao veredito final. E desta vez, a tônica foi pimenta. O perfume se chama Piment Brulant, Poivre Piquant by L’Artisan Parfumeur.

E o prato? Uma costela de porco caipira marinada com pimenta de cheiro e pimenta do reino preta e purê de cará. Cozida em baixa temperatura, ela desmanchava na boca e tinha um tom de pimenta que te permitia, a esta hora, passá-la no pescoço e mãos, locais conforme o Chandler explicou onde os bons perfumes devem ser aplicados.

Coincidência das maiores, o vinho foi um branco alemão, o Fritz Haag Trocken Riesling 2007, o mesmo que tomamos na semana passada aqui na praia e trazido pelo sommelier Eymard. Combinação perfeita e este é um vinho pra se ter na adega!

Estávamos chegando ao final. As sobremesas seriam mostradas. O perfume foi uma composição de 3 fragrâncias básicas e era o Missoni by Missoni.
A sobremesa, by Simon foi Parfait de Chocolate Manjari e fragilité de avelã servido com coulis de cajá. Uma delícia e neste momento, já estávamos nos sentindo como se estivéssemos experimentando perfumes na Sephora e sem saber qual foi o primeiro! rsrs

Últimos perfume e prato. O perfume? Black Orchid by Tom Ford.
O último prato? Sopa gelada de caldo de cana temperado com baunilha do cerrado e cachaça envelhecida, servida com torta de castanha do Pará. Não gostamos do perfume, mas adoramos a sobremesa.

Finito!! Ainda tivemos quase que uma entrevista coletiva do amável Chandler que nos deu grandes dicas de como fazer pra comprar cheirosos e bons perfumes, além de todos os participantes do jantar estarem, certamente, num estado de graça.

O resultado final foi que mudamos todo o nosso formato de ver e sentir os perfumes. Você, depois desta experiência, consegue perceber não só o natural business, bem como a paixão e o conceito que move quem cria cada uma das suas obras-primas.

E muito melhor, ficamos com o olfato treinado. Afinal de contas, ficar gritando baunilha”, “arroz cru”, “ki-suco”, “cravo”, “cárie” (esta eu falei pro cheiro que segundo o Chandler seria o do ânus dum gato! :), “frangélico”, “limão”, “carro novo” e até “Coca-Cola” (este a  Dé acertou na mosca !) a noite inteira já foi um verdadeiro espetáculo!
O jantar justificou exatamente a definição da sua denominação no dicionário: nós sentimos o perfume, o aroma, o odor, a fragrância. E farejamos, cheiramos, pressentimos, vimos um montão de sinais!
Ah! Uma outra certeza também: precisamos conhecer o restaurante do Simon em Brasilia, o Aquavit!

Até a próxima fragrância comestível. Ou seria , comida cheirosa?

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Há 13 comentários

  1. Que experiencia sensacional!!! Eu fiquei muito curioso quando voce contou sobre esse jantar. Depois vi uma materia na internet. Nenhuma delas rendeu verdadeira homenagem `a noite como a sua. Que privilegio realmente estar em contato com tanta criatividade e com gente do nivel da Liana Sabo (uma jornalista de gastronomia da mais alta qualidade em Brasilia); do Luis Americo Camargo; do Chandler e do nosso grande Simon.
    E que coincidencias. Brasilia no centro das atraçoes (o chef; a baunilha; a jornalista; e…ate o vinho!!!! rs)
    E claro que no nosso segundo ISB nao faltara uma visita gastronomica ao Aquavit. E, tenha certeza, sera muito especial e revelada tim-tim-por-tim-tim por aqui.

  2. Mais que um jantar, foi um tremendo desafio 🙂 Este conceito é o máximo. Gostei do facto de não poderem levar perfume porque há pessoas que exageram na dose e até fazem com que o apetite dos outros se perca 🙂

  3. Edu,
    mais uma coisa. Conte melhor essa história da glândula do …do gato. Era isso mesmo? Li em matéria da uol que o cheiro era de “ânus de gato”….bem, como não tenho gato, jamais descobriria esse cheiro (rs).

  4. Sócio Eymard, Brasília está se tornado a capital do DCPV. Que tal: Ferraz, capital, Brasília?
    Ao Simon!! rs
    Quanto a glândula, respondo abaixo.

    Ameixa, foi isto mesmo. Nós deixamos de ir a alguns deste eventos depois daquele “morecurá”. Mas ainda bem que eu fui teimoso!

    Alana, é claro que não cheiramos o “fiofó” de nenhum felino mesmo porque não tinha algum por lá!
    rs
    Na verdade, ele nos mostrou o que seria o cheiro (ruim, mas suportável) duma glândula do ânus dum gato e que este elemento é usado como um super-fixador de perfumes.
    Portanto, se você usa algum perfume, cuidado! Pode estar usando este “cheiro” no seu pescoço.
    Despois desta explicação, acho que dá pra entender o porque que continuamos comendo tudo naquele maravilhoso jantar.

    Abs perfumados pra todos (menos pro gato!)

  5. Quem diria… A coca-cola chega ao DCPV em grande estilo: “sorbet/sorvete da própria, a Coca-Cola”! Já não preciso ficar constrangida por só beber coca-cola… :- )

  6. Eymard, apenas reflexo do TANTO de trabalho. Ainda não complentamos 15 dias de aula e já estou exausta. Quase não dou conta de enviar o título do post e sei que se tivesse vindo a BH teria me “cobrado” a pedido do Edu. :- )

  7. Pingback: RetrOvisOrio
  8. Edu e Dé, pelo amor de Deus!!!! Tô roxa de inveja!!! Gente, esta experiência eu queria muito ter participado porque tenho faro de perdigeiro e paladar não sei de que, mais algo que tenha apuradíssimo. Os amigos já me conhecem por isto. Deve ter sido tudo maravilhoso e inusitado. E aqui fica o meu testemunho…o Aquavit é mesmo inesquecível, quando vierem a Bsb, não percam, em nenhuma hipótese. Aproveitem e me mandam um e-mail que vamos juntos (maridão também, claro). Tenho para mim que o Simon vai ser reconhecido como um dos melhores do Brasil, ele é muito criativo e minuscioso na confecção dos pratos. Bj aos dois.

  9. Drix, tudo bem. Mas foi a única coisa que sobrou nos meus pratos/copos naquela noite. rsrs
    Quanto as 2 linhas, a tua média caiu de 57,7 pra 57,6.

    Sócio Eymard, acho que compensou. Se bem que você não pode falar nada pois o teu texto está imeeeeenso ( e muito bom também).
    Aguarde, no próximo sábado.

    RetrOvisOrio, grato. Volte sempre.

    Teia, pode deixar que o Aquavit está na lista dos “a ir” em Brasília.

    Abs perfumados pra todos.

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