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dcpv – da cachaça pro vinho – epice, um restaurante de espécie

09/04/11

dcpv – Epice, um restaurante de espécie.

Parece que, ultimamente, todos os restaurantes estão se contentando em ser mais um na multidão (vide a coluna do grande Luiz Américo Camargo no Paladar), sem grandes surpresas e pior, com os proprietários/chef não demonstrando quase nenhuma personalidade.

Ninguém aparenta aquela necessidade de mostrar alguma coisa diferente e quase sempre, até o mais básico não é feito. Por exemplo? Temperar mais o prato com um pouquinho de sal ou utilizar um ingrediente numa preparação original.

E especificamente (sem trocadilho) neste caso, o Epice (não tem acentuação mesmo) se destaca e muito.

O chef Alberto Landgraf (que trabalhou num montão de lugares tais como na Inglaterra e na França, com o rabugento Ramsay incluso) se associou aos investidores Lara e Pedro (na verdade, além de terem colocado dinheiro deles nesta empreitada, ela atua como hostess e ele coordena o atendimento) e resolveram fazer esta comida de autor.
O lugar é bem bacana; tem um pé-direito duplo e a decoração foi feita pelos próprios donos. Além de demonstrar personalidade, certamente barateou bastante o projeto.

Por enquanto, ele está um tanto quanto camuflado (seria um speakeasy?) já que além de não ter número, ainda não tem o nome na fachada (segundo o porteiro e os proprietários, este “defeito” será sanado ainda esta semana).

Iniciamos os trabalhos estudando o menu. Dá a impressão que ele muda bastante já que as folhas são soltas.

Enquanto pensávamos o que escolher, chegaram os pãezinhos quentíssimos e muito frescos.

Eles compunham o couvert que também continha uma tremenda manteiga, azeite, flor de sal (a verdadeira) e água (com ou sem gás). Uma boa notícia: tudo isto está incluso no preço (R$10,00 por pessoa) com uma novidade completa: a água é reposta durante toda a refeição e em jarrinhas bem estilosas. Perfeito! Parabéns aos proprietários.

A Dé escolheu a entrada sem pestanejar: Abóbora. Em forma de gnocchi, sauté, creme dela e de avelãs, acompanhado de shimeji e gelatina de parmesão. Muito bom mesmo.

Eu, estando na praia, exercitei a minha veia: escolhi o Lagostim. Sauté, com ravioli dele mesmo, purê de maçã verde, tomilho e bisque. Sabe aquele prato bem temperado e muito leve? É ele.

Pedimos dois copos dum vinho branco Chardonnay argentino, continuamos dando uma olhada em tudo e percebendo como a Lara e o Pedro administram muito bem o lugar.
A Dé escolheu o principal indo na lógica dela: o Robalo (que ela adora) sauté com farofa de amêndoas, purê de limão (excelente), alho poró, cerefólio e molho vierge. Tudo perfeito com destaque pra ideia que o Alberto teve de assar o alho poró inteiro.

Eu continuei a minha sina de experimentar polvo onde ele existir. E neste caso, os dois tentáculos do Octopussy cozidos à precisão acompanhados de batata fondant, tomate confit (que tomate!!), vinagrete de Jerez com pinoli e catalônia. Espetacular e usar o amargor da catalônia pra contrastar foi sensacional, Alberto. Certamente foi o melhor polvo que eu comi nos últimos tempos.

Normalmente não pediríamos a sobremesa. Mas desta vez, forçamos um pouquinho a barra, fizemos o esquema 2 (colheres) x 1 (doce) e pedimos o saboroso Abacaxi.
É um ravioli, uma bola de sorvete e tuille de abacaxi com mousse de coco. A tuille era tão fina e caramelizada que mais parecia um papel “quebraqueixado” do ananás. Como será que ela é feita?

Prontíssimo. Tivemos um belíssimo almoço com a certeza de que ousar um pouco faz bem a qualquer estabelecimento.

Voltaremos várias vezes: pra ver o número, a fachada, experimentar os outros pratos e certamente, constatar o sucesso do Epice.

Que, não sei se com intenção ou não, apesar de não ter o acento grafológico, tem um acento bastante “acentuado” no tempero, na especiaria.

Até.

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Há 16 comentários

  1. Comentário três em um…

    Edu, quando falo de simplicidade/simplificar é exatamente deste couvert que estou falando. Que vontade de comer aqueles pãezinhos com aquela manteiga, ou um pouquinho de azeite e sal. Não é preciso inventar muito para ter sabor e nos fazer salivar.

    O couvert lembrou-me Neruda e sua Oda al pan…

    “(…) entonces también la vida tendrá forma de pan, será simple y profunda, innumerable y pura. Todos los seres tendrán derecho a la tierra y a la vida, y así será el pan de mañana, el pan de cada boca, sagrado, consagrado, porque será el producto de la más larga y dura lucha humana.”

    Mas fazendo referencia ao post de Brasilia, concordo com você: temos nosso paladar individual sim, mas nossa cultura acaba nos definindo sabores específicos e também “aprendemos” a gostar de novos sabores. Estive visitando uma universidade ontem, cujo pró-reitor é gaúcho. Apensar da universidade estar em uma cidade do interior de Minas, lá estava, ao lado do computador, sua cuia de chimarrão. Quanto à educação… Bem, referia-me a delicadeza sua e de Eyamrd de não “entregarem” que de certa forma fui o motivo de não terem ido ao Simon na primeira visita à Brasília… Não sei se entenderam… rs rs

    Agradeço o deferimento da presidenta do sub-grupo do DCPV. Veja que já somos três, incluindo a Mara. Sueli, acha que Jorge topa participar? Certamente iríamos ao Coco Bambu em uma ida a Brasilia! :- )

    Bem, brincadeiras a parte, admiro de verdade os chefs que criam misturas que acabam por reinventar sabores e longe de mim fazer de meu comentário no blog uma crítica gastronômica. Vejo esses chefs como verdadeiros alquimistas. E se nem sempre o sabor me atrai, adoro o cuidado com as apresentações dos pratos, alguns, verdadeiras obras de arte. Sinceramente não me sinto qualificada a avaliar, só me parece que os preços são um pouco exagerados apesar de reconhecer a qualidade dos ingredientes utilizados por esses chefs.

    Abraços,

    Adriana

  2. O que é isso, Edu?! Que gracinha de restaurante!
    Fiquei encantada com os pratos pedidos pela dupla. Acho que o casal aqui empataria nos pedidos. Jorge adora polvo, e meu gosto para comida é muito parecido com o da Dé.
    Alho-poró assado inteiro? Faço muito.
    Essa tuille de abacaxi me parece uma fatia finíssima, que simplesmente foi ao forno brandíssimo para caramelar e desidratar. Nunca fiz, puro achomêtro. E para tudo há uma técnica.
    Você só não colocou o endereço do “esconderijo”. Fui buscar no google e há um choque de informações. Dão o endereço como Rua Mourato Coelho, 885. Um diz Vila Madalena, outro Pinheiros (?)
    Em uma das informações vem o link do site oficial do restaurante, que ao clicar abre o logo que você colocou no template, e o endereço é na Haddock Lobo 1002. Afinal, onde é o restaurante?
    Estou vendo que preciso ir urgentemente a Sampa, provar as novas delícias!
    Amei essa indicação!
    Beijos, queridos.

  3. Adriana,querida.
    Lamento, mas o Jorge não faz parte dessa turma onde a Rê é a presidente.
    Os conceitos dele para comida são outros e bem diferentes do que você pensa. Ele aceita e tolera muito mais variedade de comida do que eu, e, diferente do que parece, é também muito mais exigente em certos aspectos, embora encare coisas que nem passam pela minha cabeça encarar.
    É uma coisa meio complicada de explicar, mas acho que o Edu e o Eymard já sacaram qual é o lance dele. Um dia você vai entender direitinho.
    Amei ter sido citada por você no outro post, como uma referência para comida. Será que consigo fazê-la comer uma bela polenta? Trufada, recheada e com um belo ragu? Essa o Jorge adoraria vê-la comer.
    Beijos e saudades.

  4. Edu,
    Essa porta secreta, sem qualquer referência na porta, me lembrou o restaurante da Club Chocolate, na Oscar Freire, que nós descobrimos por acaso, de tanto passar na porta e ver um certo movimento de manobristas. Resolvemos entrar e tivemos uma belíssima surpresa com o que se escondia por trás daquela enorme porta de madeira, sempre fechada. Os pães de lá eram um espetáculo, mas o lugar não vingou.
    Ah, eu adorava, o Jorge achava pura frescura!E um roubo. Entendeu, Adriana?

  5. Sueli, acho que estou começando a entender… rs Digamos que Jorge e eu combinamos ao definir o limite da frescura e ao avaliar os preços :- ) Mas ele, ao contrário de mim, não só gosta como é aberto aos novos sabores. No fundo Eymard tem razão; reconheço: sou uma chata para comer (Eymard, era chata, mimada ou fresca? rs rs rs No fundo, dá na mesma…) Quanto à polenta? Será? rs rs Mas confesso que quando li pensei: para que variar? A comidinha gostosa estava deliciosa! E o arroz de bacalhau, a abóbara recheada, a salada com a pera e o molho de laranja… Repito qualquer um deles! Mas já que sua comida passou a fazer parte do roteiro turístico de Brasília, prometo experimentar a polenta! Mas pato já seria muita ousadia! rs rs

  6. Drix, boa a da simplicidade. Mas sem exageros! rsrs
    E Neruda+Drix formam uma boa dobradinha por aqui.
    Eu pelo menos entendi (e acredito que o Eymard também) a delicadeza de não entregarmos. Se bem que foi um tremendo acerto, pois acho que você só comeria o pão de tudo o que nos foi servido no Aquavit.
    A Sueli já respondeu, mas eu sei que o Jorge não joga no time do Clube das “Enjoadas”! 🙂
    Quanto aos preços, você está absolutamente certa. O problema é que aquela famosa lei da “oferta x procura” está funcionando neste meio. Os restaurantes estão cada vez mais cheios!

    Sueli, o Epice é muito bom mesmo. Precisamos fazer uma reunião do ISB por lá. E o Alberto disse que vai conversar com você sobre o plágio! rs
    Quanto ao endereço, é na Haddock Lobo, 1002. Já incluí no texto. Eles estão finalizando o site do restaurante.
    Também fomos ao restaurante/loja conceito Club Chocolate. Concordo com o Jorge: lá tudo era um “roubo”. Absolutamente tudo e acho que foi por isto que quebrou! 🙂

    Drix, resumo da ópera: o Jorge (assim como eu e o Eymard)comerías uma rabada ou uma galinhada, especialmente se fosse muito barata. Já você …
    Quanto ao pato, cuidado com o que fala. Os Loguercio poderão te colocar na lista negra!! rs

    Abs especializados pra todos

  7. Edu,
    você está quase entendendo o conceito de comer do Jorge. Quase, porque ele não se incomoda de ser explorado na hora de pagar a conta. Ele gosta é de COMER.
    A rabada eu ainda não comi uma que me convencesse, mas adoro galinhada, molho pardo, coq au vin…
    Só não gosto de pé sujo, um outro conceito.

  8. Ué Edu, eu disse que aderia ao clube da Re, mas estava longe de saber que era o Clube das Enjoadas!!!!!
    Bora fazer o teste?
    Adoraria comer a polenta trufada, recheada com um belo ragu, made by Sueli. E aí, em qual clube devo me filiar?

    OF POST
    É alguma coisa como ensinar padre-nosso pra vigário, mas vamos lá.
    Fuçando na Internet me deparei com a divulgação de restô, ou será bistrô inugurado a Vila Madalena: AK Vila.Estava dito se tratar de hot spot moderninho e aconchegante, sob o comando de Andrea Kaufmann, que foi responsável pelo AK Delicatessen.
    Que me dizes?
    O epice tá anotado. Pensando bem, tenho que ampliar a temporada na cidade para dar conta do dever de casa.

    Sueli, não experimentei o cardápio apimentado ($$$$) da Club Chocolate, mas ficava enebriada com a beleza do espaço, projeto Isay Weinfeld. Não podia passar na rua que entrava no nº 913 pra admirar.
    Na última vez que passei por lá, o local tinha novo dono, se não me engano, M. Martan, oh céus, que pena!
    Abraços

  9. Tardei! Mas nao faltei. Demorei um pouco para escrever. Embora tenho visto o post e achado um desaforo que voces tenham ido lá sem a gente! Entao fiz algumas horas de silencio.
    Tudo bem! A vingança já está arquitetada. Aguardem!!!!
    Que lugar bacana, hein Edu? Comida para comer com os olhos e todos os outros sentidos. Muito bacana. Nao sei se vou ter condicao, neste momento, de ler tuuuuuudo o que a Adriana e a Sueli escreveram. Como nao gosto de passar batido na leitura, vou ler com calma e depois comento.
    Mara: acho que voce esta como nós. Filiada em todos os clubes. Nada lhe escapa! abs

  10. Bem, nesse exato momento a vingança nao esta apena arquitetada!!!! Ja esta em plena execuçao (vejam como realmente demorei a comentar – rs).

  11. Eymard, de cara notei que algo tinha acontecido, pois você é sempre o primeiro da classe!!!!
    Mas “nerd” também se revolta e bota pra quebrar, né não?
    Vingança maligna, hahaha!

  12. MARA, seu time é o dos glutões, com certeza. As enjoadinhas torcem a cara para muita coisa. Mas no time dos glutões também há aqueles que têm alguma restrição alimentar, viu?
    Eu não sabia desse triste fim do Clube Chocolate. Achava aquele lugar o máximo e o restaurante era demais. Ano passado fomos duas vezes a Sampa, mas não ficamos ali nos Jardins, e fomos para programações fechadas. Estou precisando passar uns dias por lá, e, de preferência, ir conhecer as novidades dos Jardins. Esse não é o primeiro que o Edu cita, além do Marcel, que fica no térreo do hotel onde gosto de ficar.
    Ó deus, está faltando mês no ano!

  13. Sueli, é claro que captei a mensagem desde o princípio. O Jorge não gosta de afrescalhamento, especialmente os caros.
    Quanto ao pé-sujo, há controvérsias!! 🙂

    Mara, bom, no Clube da Casa da Sueli e do Jorge eu não posso me meter!! rsrs
    Quanto ao das “Enjoadas” foi, digamos, força de expressão.
    Quanto ao AK, está na lista. Parece que a Andréa mudou o estilo do restaurante e ainda bem, pois não éramos muito fãs da comida judaica pesadona do AK antigo.
    E quando vierem pra cá, está marcada uma reunião extraordinária na Epice,certo?

    Fala, sócio. Até que enfim apareceu!
    Se bem que eu sei que o seu desaparecimento é por uma boa causa.
    A quantas anda a Maçã Grande?

    Mara, nerd; tai uma boa definição! 🙂

    Sueli, e faltando estômago pros corpos! rs

    Abs não acentuados pra todos.

  14. Na minha ultima ida à São Paulo, conheci o restaurante e o achei belíssimo.
    Comida bem preparada e muito bem apresentada.
    Triste mesmo foi a notícia que lí sobre a maneira grosseira como trataram uma criança com necessidades especiais…
    Sou mãe de duas crianças e, normalmente, não as levo à este tipo de restaurante sobretudo porque sei que eles não se sentirão à vontade.
    Mas veja, é direito de cada um levar ou não suas crianças para qualquer lugar…
    Achei uma grande falta de tato,sensibilidade e claro, respeito aos pais, à criança e aos clientes que presenciaram a cena triste.

    Espero que tanto os proprietários quanto todos nós, sejamos mais condescendentes com as necessidades específicas de cada pessoa.

  15. Vera, concordo com você. Quem tem uma casa aberta ao público tem que ter, no mínimo, preparo para lidar com os diversos tipos de situações, e sempre com muito tato, educação e talento.
    Uma pena!

  16. Vera, compartilho tanto a tua opinião quanto a qualidade do restaurante como no atendimento.
    Vou enviar um e-mail pros proprietários que me pareceram ser bastantes sérios e ouvir a versão deles. Né, Sueli?
    Onde foi que você leu?

    Abs apimentados.

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