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dcpv – ISB BH – Era dia comum e virou festa. A gente põe nas coisas as cores que tem por dentro.

13 a 15/03/11

ISB BH: “Era dia comum e virou festa. A gente põe nas coisas as cores que tem por dentro

N.R. – Lá vamos nós pra mais um capítulo da novela ISB BH, ou melhor, ISBH, ou melhor ainda, o Inter dos Sem Blogs realizado em Belo Horizonte. Se na semana passada tivemos a visão lírica do Eymard, nesta, teremos a liriquíssima da mineira das mineiras, a Drix (também conhecida como Adriana).
Afinal de contas, não é qualquer um que consegue impunemente posar pruma foto oficial intitulada: Mineiridade ao triplo – Mineirinho, Mineira e Mineirão. 🙂

Da cachaça pro vinho. De Brasília para Pampulha. Do horizonte imenso para o belo horizonte… Assim terminei meu texto sobre nosso ISB em Brasília, dando um viva ao ISB BH. E ele, finalmente, chegou!

Mania de mineiro: construir capitais…

A transferência da sede do governo de Minas Gerais de Ouro Preto para Belo Horizonte não aconteceu sem conflitos. Mas em tempos de República, Ouro Preto representava um passado colonial. Era necessária a construção de símbolos que pudessem legitimar o novo regime. Belo Horizonte, considerada por muitos a primeira cidade planejada do país, teve no ideal positivista – ordem e progresso – a inspiração para seu traçado. Uma avenida – a do Contorno – funcionava como limite entre o centro administrativo e as chácaras. Em forma de elipse se aproximava do contorno de Paris, ainda que sua grande inspiração tenha sido La Plata, na Argentina, inaugurada alguns anos antes. Na zona urbana, o rígido quadriculado de ruas e avenidas diagonais. Para o Estado laico uma sede localizada, geograficamente, acima da Igreja Matriz. A arquitetura eclética com a presença de elementos neoclássicos, como o Palácio da Liberdade e as Secretárias ao seu entorno, simbolizava o rompimento com a arquitetura colonial. Para uma nova era, uma nova capital. Assim surgiu Belo Horizonte, naquele 12 de dezembro de 1897, cidade para ser “lida” e sentida em suas mais diversas dimensões.

A cidade e seus lugares

Era preciso escolher alguns lugares da cidade para levar os amigos que chegavam de São Paulo e Brasília. As escolhas são sempre pessoais e nos remetem a lembranças e sentimentos. Foram minhas lembranças e meus sentimentos que escolheram a Serra do Curral, a Praça da Liberdade e Pampulha, para nosso “city tour” de domingo. Além disso, em fim de semana de “Comida di Buteco” eles, os botecos, não poderiam ficar de fora.

“Em volta dessas mesas, uma cidade”

A relação de Belo Horizonte com os bares vem desde os tempos de sua construção. Em volta de suas mesas a sociabilidade mineira se preserva. Ao longo de sua história, a cidade viu seus bares, cafés e botequins se multiplicarem com um traçado próprio que integra mesa e rua, forma que encontrou de dizer que ali todos são bem-vindos. Estava decidido: sábado seria o dia – ou a noite – dos botecos! Quem chega de fora logo descobre que em BH “buteco” não é um lugar, é um estado de espírito. Decoração, tira gosto e cerveja gelada são importantes, mas não são o mais importante. Provamos isso… Um não era o mais confortável, o outro não tinha o melhor tira-gosto, em outro a cerveja não estava tão gelada, mas nos três nos divertimos muito e brindamos, três vezes, com copo Lagoinha, como por aqui é conhecido o copo americano, referência e homenagem da cidade tradicional à sua zona boêmia; comunhão do sagrado e do profano. Brindes ao sentimento que une esse grupo tão especial e nos faz cruzar esse país pela alegria do reencontro.

Serra do Curral, Praça da Liberdade e Pampulha: dia de “city tour”!

Moldura natural de Belo Horizonte, a Serra do Curral foi escolhida, pela população, símbolo da cidade. É ela que nos ensina que força e delicadeza não se excluem.  No alto das Mangabeiras podemos sentir sua força que protege e sua delicadeza que abraça. É onde me sinto mais mineira; onde li e reli trechos do “Livro dos Prazeres” ou “Uma aprendizagem”, de Clarice Lispector; onde choro e sorrio assistindo ao Grupo Galpão; onde converso comigo mesma e com Deus; de onde não me canso de ver a cidade.

Contornando a praça da Liberdade, o Palácio da Liberdade e as Secretarias de Governo, prédios da época da fundação da cidade, o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, modernismo de Niemeyer, da década de 60 e o pós-moderno “Rainha da Sucata”, da década de 90. Diversos estilos arquitetônicos nos ensinando que é possível a harmonia entre diferentes. Na praça da Liberdade nos apropriamos dos espaços da cidade, transformando suas alamedas, fontes e coreto, em cenário para a banda, o teatro, as caminhadas, as manifestações políticas, o encontro de amigos, a descoberta do amor, a cumplicidade entre pais e filhos nas primeiras pedaladas no dia 25 de dezembro. Como aquela praça se enche de bicicletas a cada 25 de dezembro!

Com a Pampulha, Belo Horizonte tornou-se referência internacional da arquitetura moderna. O Complexo da Pampulha – um cassino (hoje Museu de Arte Moderna), um clube (o Iate Tênis Clube), um restaurante (a Casa do Baile), e uma capela (a Igreja de São Francisco), margeando um lago artificial – antecipou Brasília, unindo JK, Niemeyer, Portinari, Ceschiatti e Burle Marx. Na impossibilidade de visitar todos os prédios escolhi a Igrejinha. Das linhas ainda desconhecidas de Niemeyer, uma sucessão de abóbadas parabólicas, em uma alusão às montanhas de Minas Gerais. Painéis, azulejos e Via Sacra de Portinari. De Ceschiatti, a pia batismal e os painéis em bronze. De Burle Marx, os jardins, de onde foi possível ver de longe o Mineirão – em obras para a Copa – e o Mineirinho. Pampulha nos ensina que é possível ser moderno sem perder o jeito de interior.

A cidade e seu entorno

Belo Horizonte, quase sempre, é cidade dormitório, para quem quer conhecer os encantos de Minas Gerais: suas cidades históricas – Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Sabará, Tiradentes, São João del Rei -,  suas grutas – na região de Cordisburgo, Lagoa Santa e Sete Lagoas – e, mais recentemente, Inhotim. Confesso que fico com o coração dividido, quando recebo alguém que ainda não conhece Ouro Preto. Não sei quantas vezes já estive na cidade, mas ainda me emociono quando chego e vejo, do alto, seus telhados e igrejas. Certamente iremos lá no próximo ISB BH. Mas esta foi a vez de Inhotim. E foi ótimo! A excursão de van, o almoço na “távola redonda”, encantamento, surpresa, espanto, questionamentos, beleza, natureza, sentimentos, sentidos… Tudo o que já foi dito aqui antes de mim…

A cidade e seus sabores

Muito se fala da comida mineira. E justamente aqui o ISB teria um formato diferente, consequência de uma cozinha que tem quadros no lugar do exaustor e de uma mineira que desafiou as aulas de “Educação para o lar” no colégio de freiras e não aprendeu a fritar um ovo.

Mas as “entradeiras”, como bem definiu Edu, seriam em minha casa. E assim foi. Sexta-feira, depois da excursão ao Verdemar, o primeiro brinde. Estava lançado oficialmente o ISB BH.

Para aquela noite, escolhi o Vecchio Sogno, sabor italiano preparado por um chef mineiro premiado e estrelado. Além disso, carne, certamente, estaria no cardápio de domingo. Massas para quase todos, vinho, coca-cola (adivinha para quem, não é Edu?) e um festival de sobremesas compartilhadas, como tem sido em todos os ISB.

Sábado é dia de boteco. Não para meu pai, que sempre afirmou que boêmio profissional sai de segunda a quinta. Mas pelo que presenciei, Edu, Mingão e Eymard estão longe de serem amadores. :- ) Nesse dia, o sabor foi do norte de Minas. Explico! Para 2011, o “Comida di Buteco” tinha como ingredientes obrigatórios, alimentos típicos do norte de Minas: carne de sol, peixes do São Francisco, pequi, feijão andu, requeijão escuro, buriti, seriguela, rapadura, sementes de coentro fresco, manteiga de garrafa. E no nosso “Comida di Buteco” particular, acrescentamos a tudo isso torresmo, linguiça, caldo de feijão, mandioca, lombinho, pão com alho e filet com fritas (adivinha para quem?).

No domingo, para finalizar a saga gastronômica – afinal tudo começou por causa de um blog que fala de gastronomia – a comida mineira. E quando se fala em comida mineira, fala-se em Xapuri. Pedidos variados, com acompanhamentos compartilhados. Couve, taioba, torresmo e linguiça na chapa não poderiam faltar. E não faltaram. E doces em calda. Muitos doces. E queijo, porque doce em calda se come com queijo… de Minas, claro!

A cidade, a saudade, o desejo de novos belos horizontes.

Foi delicioso receber amigos tão queridos em BH. Como escreveu Antônio Marcos Noronha, “era dia comum e virou festa”. Vivemos momentos de intensa alegria e amizade carinhosa que deixaram saudade. Mas há também a saudade do não vivido: compartilhar esses momentos com Sueli, Jorge e Déo; compartilhar os amigos com Carlos.

Sou mesmo uma apaixonada por Minas e a trago no coração. Como escreveu professor Aires da Matta Machado, “Minas é um estado, assim mesmo, com inicial minúscula”.  Sou mesmo uma apaixonada por Belo Horizonte e sei que tenho o perdão das outras cidades, pois muitos são os que são apaixonados por elas. Meu amor não lhes faz falta. Mas minha paixão não me cega. Sei que conheceram uma BH especial, que para meu privilegio faz parte de meu cotidiano. Mas quando nos distanciamos desses locais nos quais passei minha infância, minha adolescência e vivo minha vida adulta a cidade se transforma. Nas praças a alegria não é inerente às crianças, as ruas e praças não são tão arborizadas, a mesa não é tão farta. Por isso meu desejo de que a Serra do Curral estenda seu abraço acolhedor a todos, sem distinção. Que a cidade, traçada pelo ideal positivista, encontre no ideal de liberdade e igualdade dos inconfidentes sua inspiração para se tornar, a cada dia, uma cidade melhor: mais alegre e mais democrática; uma cidade de novos belos horizontes para todos.

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Há 10 comentários

  1. Sócio, nesse eu perdoo!!! (mas vim loguim em seguida!!!) – rs

    APLAUDI, DE PE!!!!!!!!! Clap..clap..clap…..Adriana, nao sobrou pra ninguém!!!
    Em cada palavra, em cada linha, em cada parágrafo…transborda seu amor por BH. E isso é tao verdadeiro que assim nos sentimos ai. Nao foi a toa que minha “mineiridade” veio a tona. Voce que a fez aflorar! Seu texto, sim, esse sim é um texto…tem textura!
    Fico por aqui, para ter tempo de ler..e reler…e ler…e reler….até que venha o livro, como disse o Edu. Que veja logo!!!!

  2. Edu, obrigada pela edição (mas confesso que acreditei que desta vez o editor cortaria algumas linhas rs rs)! A foto da Igrejinha da Pampulha com as crianças de bicicleta resume Belo Horizonte, cidade centenária e de todos os tempos, cidade grande que não perdeu seu jeito de interior. ADOREI a foto “Mineiridade ao triplo”! Minha saga de aniversários de junho continua e hoje o almoço do aniversário de um primo será na fazenda. Só assim, Edu, para Eymard largar na terceira posição. Mara e Sueli, eis a chance de tirá-lo do podium! :- )

    O texto recebeu uns três cortes de minha parte. Da primeira vez, embalada pela alegria de receber os amigos em BH, pela paixão pela cidade e pelo desejo de compartilhar as emoções vividas aqui com os leitores do Edu, escrevi seis páginas! Recupero parte delas agora. rs rs

    Desde o primeiro ISB sou uma privilegiada. Meus encontros começam sempre um dia antes. Em SP, show do Jorge Drexler com Renata, Débora e Edu; em Brasília, almoço com comidinha gostosa na casa de Sueli e Jorge, e jantar simples, pasta ao dente com manteiga trufada derretida e trufas brancas, na casa de Lourdes e Eymard, com a companhia de Gustavo. Agora em BH, jantar português (Ameixinha, já antecipando nossa comemoração para celebrar nosso parentesco: você, Sueli, minha xará e eu) e almoço com Lourdes e Eymard.

    Esse ISB permitiu ainda tecer um pouco mais essa nossa rede, com a “materialização” de minha xará, Adriana Pessoa, Márcio e Lina, que conhecia apenas dos comentários no DCPV. Gostoso poder confirmar aquilo que discuto com meus alunos em sala de aula: as redes sociais se confirmar a cada dia, como uma nova forma de socialização que amplia as possibilidades de pessoas se conhecerem a partir de interesses comuns, rompendo com os limites geográficos. Qual seria nosso interesse comum? Viver a vida em sua plenitude, com alegria, carinho, generosidade, cultivando os amigos. Ah! E comer e beber, claro! :- )

  3. Adriana, como o dono do blog nao conta….continuo na poli!!! (rs). 2 minutos…..
    Uma belezura, Adriana. E voce tem toda a razao sobre as redes sociais, os achados e as escolhas. Sem elas talvez jamais nos reconheceríamos.
    Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres da Clarice! Li e reli várias vezes aquele banho de mar da Lori. Uma das cenas mais explicitamente sensuais da literatura.
    “Ai estava o mar, a mais ininteligível das existencias nao-humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos.” (Clarice Lispector…)

  4. Drix, pra ganhar do sócio, acho que só eu!! rs
    E como o meu comentário não vale pro ranking, já sabemos quem continua em primeiro, né?

  5. Adri, querida, que coisa mais linda!
    Cada texto seu é um flash…
    Como não se apaixonar por essa BH que você retrata tão bem?
    Como não desejar que você se lance, imediatamente, na escrita desse livro que será, certamente, o maior sucesso?
    Como não entender perfeitamente o que é um “buteco”, depois de você dizer que isso não é um lugar e sim um estado de espírito?
    Um estado de espírito é o que nos une, tão diversos e plurais, tão distantes geograficamente e tão próximos em desejos. Seríamos nós um “buteco”?
    Como não vislumbrar a Praça da Liberdade num 25 de dezembro, cheio de crianças alegres a exibir seu mais novo presente?
    Como não relembrar Clarice?
    Como não sentir uma grande saudade de todos nós juntos em São Paulo e depois Brasília?
    Bendita “rede” que nos pescou, nos uniu e nos irmanou!
    Obrigada, Edu, por publicar sempre essa foto tirada em São Paulo, no nosso primeiro encontro! Me emociono muito quando a vejo, sinto que ela resume a alegria curiosa de cada um nós e me faz presente onde estive ausente.
    Adoro vocês e espero podermos compartilhar muitos e muitos momentos juntos.
    Beijos

  6. Muitas vezes os livros e filmes têm trechos e cenas que fazem com que aqueles livros ou filmes entranhem em nosso coração e não saiam nunca mais. Por isso sabemos de cor… by heart, par coeur.

    O que dizer da cena em que Salvatore recebe a fita com todos os beijos dos filmes, proibidos na infância e editados por Alfredo para ele, em “Cinema Paradiso”? E a cena final, de “El Secreto de Sus Ojos”, quando finalmente Benjamin e Irene revelam o segredo de seus olhos e se entregam ao amor cultivado por anos? Como não ouvir o amor silencioso de “Le Silence de la mer”, filme que me foi apresentado por Sueli?

    “Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida.” Eymard, foram tantas as vezes que li esse trecho do livro, abraçada pela Serra do Curral, que acabei escrevendo-o no meu coração.

    Eymard, reconheci sua mineiridade desde o primeiro encontro, antes mesmo do 1º ISB, quando estive em Brasília a trabalho. Como se diz por aqui, a gente até pode sair de Minas, mas Minas não sai da gente. Temos que marcar a viagem de seus pais para BH. Vamos fazer um roteiro especial.

    Sueli, em cada um de nossos encontros sinto a alma de “buteco” presente, que se resume em alegria, confraternização e celebração da amizade.

    Edu, acho que é melhor você declarar Eymard “hors concours”!

  7. Beth, precisamos marcar um destes aí no RJ. Ou aqui em SP. O que você e o Dodô acham?

    Sueli, a foto tem que ser publicada sempre. Afinal de contas e utilizando o mesma linha do “flash”, não é brinquedo, não? rs

    Hemp, é você mesmo? rsrs

    Drix, o sócio já é. O problema é que ele é muito competitivo!

    Abs diretos de minsss pra todos.

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