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dcpv – da cachaça pro vinho – comer como um frade

número 298
19/07/11

dcpv – Comer como um frade

“Divinas receitas pra quem sabe por que temos um céu na boca”.

Este é o subtítulo do livro “Comer como um frade” do Frei Betto (Editora José Olympio) que a Drix nos deu de presente quando da nossa visita a BH por conta do 3º ISBH.

É mole? Além de nos recepcionar como reis ou melhor monarcas, ainda recebemos presentes deste calibre da nossa anfitriã. E este livro é muito interessante.

O Frei Betto que afirma “há quem me acuse de ter complexo de Édipo. Não é verdade. Não tenho complexo. Sou o próprio. A diferença é que antes a D Stella era a mãe do filho. Depois do sucesso dos seus livros de culinária (ela é autora, entre outros, do clássico Fogão de Lenha: 300 Anos de Cozinha Mineira), passei a ser filho da Stella”.

E ele também diz que “no Rio, no início da década de 1960, morei numa república de estudantes cuja fome superava e muito, os recursos disponíveis para comprar alimentos. Aprendi a fazer farofa, multiplicar a quantidade de feijão sem incluir novos grãos e cortar carne como se fosse salame pra que ninguém ficasse sem bife“.
Ou seja, o Frei é uma figuraça culinária.

E partindo deste princípio, escolhi entre as inúmeras receitas que ele adaptou, algumas pra formar o menu desta noite.
Elas são bastantes simples e tem um jeitão de saborosas. Vamos ver se são ou não?

Minha intenção é facilitar a vida de quem pretende receber amigos para almoçar ou deseja preparar um jantar de muito bom gosto com o que pode ser encontrado na feira ou no supermercado da esquina” (isto é, no Veran).

Bebidinha – Uma caipirinha de kinkã. Espiritualmente selvagem.

EntradasCanapés Pascais, Caruru à São Sebastião e Pirão de Espinafre à Maria Abadessa.

Dica do FreiPra conservar frescos os limões partidos, coloque-os na geladeira com a parte cortada virada de boca num pires com um pouco de água.

Pelo nome das receitas deu pra perceber que elas são do Frei Betto, né? 🙂
Os canapés são torradas feitas com fatias de pão de forma cortadas em 4 e …

… cobertas com queijo cremoso, uma mistura de presunto picado e lâminas de azeitona …

… além de quadradinhos de muçarela pra finalizar.

Leve ao forno quente e deixe até a mussarela (me recuso a escrever com c cedilha) derreter.
Segundo o frei “estes canapés parecem hóstias. Uma festa para o paladar. Tão delicadas que não reduzem o apetite”.
É isto mesmo. Como que por milagre, o nosso apetite aumentou. Amém!

Já no pirão de espinafre eu fiz uma adaptação (alguém lá me cima me perdoará). Em vez de espinafre, usei o Bradesco.

Deixa eu explicar esta: todo mundo sabe que eu tenho mania de plantar coisas no meu quintal. Há um tempão eu jogo sementes nas pedras laterais da piscina. E um milagre aconteceu: uma delas germinou de tal maneira e cresce tanto que a Flora a apelidou de Bradesco por parecer com um daqueles investimentos milagrosos (se bem que eu não acredito que o Bradesco os tenha!! 🙂 ). Não me pergunte o que é, mas é uma folhagem maravilhosa, acredito que um tipo de mostarda.

Então piquei 4 folhonas de Bradesco e coloquei numa frigideira, regando com duas garrafas pequenas de leite de coco.

Deixei cozinhar, mexi bem e acrescentei ervas de Provence. Adicionei, polvilhando, farinha de mandioca crua até atingir a consistência desejada. Aí é só temperar e servir.

Na receita está escrito que “o profeta adverte que devemos comer para viver e não viver para comer“.
Resumo: estamos comendo pra viver!

E finalizando a pré-liturgia, o caruru que nada mais é do que um refogado de cebola em rodelas, molho de pimenta vermelha, um tablete de caldo de carne (tenho que ser fiel a receita! rs), sal a gosto e uma colher de curry, refogados numa colher de azeite.

Quando o tempero estiver bem curtido, junte 500 g de quiabos cortados em rodelinhas. Acrescente umas gotas de limão e deixe em fogo lento.

Sobre, palavras do frei, este “manjar dos deuses“, repouse 200 g de camarões médios e pique, por cima, 4 castanhas do pará.

Adicione coentro, cebolinha  e deixe em fogo baixo por 15 minutos.
Resumão da entrada: muito diferente, saborosa e certamente não haveria vinho que resistisse a ela. O jeito foi tomar um  espumante de primeira, o Prosecco Aurora (sou filha do Arineu!!) que foi “sincero, angelical, boreal, honesto”.

PrincipalPeixe à São Pellegrino

Dica do Frei – Use sempre a mesma faca pra cortar cebolas, pois elas tiram o corte.

Tome duas postas de filé de linguado e tempere com suco de duas laranjas, ervas de provence, hortelã, alecrim, alho batido no sal e molho de pimenta. Deixe descansar por uma hora.

Cubra com meia lata de purê de tomate (desculpe Frei, mas usei o molho da D Anina! rs) e um vidro pequeno de leite de coco.

Leve ao forno por 20 minutos, retire as postas e …

… jogue o caldo numa frigideira. Junte farinha de mandioca e faça um pirão.
Fatie uma manga e sirva como acompanhamento.

Renda graças ao Senhor que criou toda a água e os seres que nela vivem, diante deste saboroso prato“. palavras do frei Betto e nossas também.

Peixe + vinho branco = mistério gozoso.

O pior foi não ter tomado uma água do santo, aquela a italiana. Em compensação, tomamos o branco Albarinho Mar de Frades  (ô coincidência!) que foi “amém, a nós todos, convento, mansinho“.

SobremesaBolo Cremoso da Pastoral Operária

Dica do FreiPara espantar formigas doceiras, pique um pouco de fumo sobre a trilha.

É claro que esta trilha é a das formigas, né?

Este bolo é muito fácil de fazer. Basta misturar, num liquidificador, duas xícaras de chá de leite, três ovos, uma xícara de chá de fubá, duas de açúcar, uma colher de sopa de fermento em pó e 50g de queijo parmesão ralado.
Bata bem e derrame numa forma de bolo untada. Leve ao forno quente. Deixe esfriar e retire da forma.

Prontíssimo. E pra não deixar a vida muito doce (um pouco de “margoso” é sempre bom), servi um sorvete de limão cravo.

Eu juro que jamais pensaria em fazer um bolo da Pastoral Operária! 🙂

E pra não perder o jeito, mais uma dose do Spirit (ops!) Vanilla do Flávio Federico!

Eis a opinião dos coroinhas (ops, coroões!):

Comida dos deuses. Alimento pra alma! (Edu)
Ora pro nobis! Que santidade. (Mingão)
Dominus vobiscum! Et cum “stomacus” tuo! (Deo)

O livro do Frei Betto termina com alguns mistérios gozosos que ele elenca:
Acostume-se a mastigar lenta e demoradamente. A saliva é a usina que tritura o alimento. Caso contrário, o estômago se verá forçado a fazer um trabalho que a boca se omitiu.
À mesa, aposte consigo mesmo que você será o último a terminar o prato.
Abstenha-se periodicamente daqueles alimentos que você mais gosta. E seu espírito agradecerá.
O sono saudável depende do estômago moderado: a pessoa se levanta cedo e com boa disposição. A gula é sempre acompanhada por mal-estar, insônia, náusea e cólica.

É, pessoal. Eu acho que nós não dormiremos muito bem esta noite.

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Há 8 comentários

  1. Estás um verdadeiro semeador e a mostarda é a semente mais pequenina mas torne-se a maior hortaliça de todas 🙂 Cuidado com ela. Qualquer dia desses tens um pantanal ao pé da piscina 😉 Os frades a falar da gula fazem-me rir… muito he he

  2. Caramba, adorei esse santíssimo menu!
    Grande Frei Betto, de quem já admirava muitos textos, mas desconhecia completamente esse lado fogão!
    Que Frei Betto perdoe a todos vocês, que, certamente, não seguiram qualquer dos conselhos dados por ele no fim do livro e ainda encheram a cara de “água nada benta” .
    Eu, de minha parte, não sigo a maioria das regras de Frei Betto, sobretudo onde ele diz: “Acostume-se a mastigar lenta e demoradamente”, pois meu pobre estômago está sempre trabalhando dobrado. Quase engulo e não foi por falta de exemplo. Mamãe é fiel seguidora de todos esses conselhos de Frei Betto, e olha que ela nem conhece o livro!
    “À mesa, aposte consigo mesmo que você será o último a terminar o prato”. Como assim? Todo mundo vai repetir, menos eu? Mamãe é SEMPRE a última a sair da mesa. Às vezes fica até sozinha, ninguém aguenta!
    “Abstenha-se periodicamente daqueles alimentos que você mais gosta. E seu espírito agradecerá”. Santodeus, Frei Betto! Faz isso comigo, não! Eu sou uma boa cristã, meu espírito sofre muito quando estou em abstinência.
    “O sono saudável depende do estômago moderado: a pessoa se levanta cedo e com boa disposição”. Discordo, Frei Betto! Dormir de barriga vazia só faz a gente acorda mais cedo e bem molinha de tanta fome!
    “A gula é sempre acompanhada por mal-estar, insônia, naúsea e cólica”. Aqui vou ser obrigada a concordar, mas só recentemente. Com a idade, percebi que posso comer tudo o que adoro, sem exagerar.
    Belíssimo presente e belíssima seleção de receitas. O quiabinho,então! Só não morri de inveja porque hoje comi quiabo.

  3. Ameixinha, te perdoo!! So dessa vez (rs). Afinal este é um post de oraçoes e voce anda a frente nas horas.
    Sueli: o post esta maravilhoso, mas voce se superou no comentario. Gostei dimais! O dia em que almoçarmos com sua mae a Lourdes e ela vao ficar o resto da tarde sentadas a mesa….rs
    Edu/De: nao sei porque mas nós estamos com mania de achar “sinais” em tudo….o garfo e a colher do anel de guardanapo parecia dar tchauzinho para mim e para a Lourdes…meu Deus, acho que piramos!!!!

  4. Ameixa, você como sempre “espirituosa”! 🙂

    Sueli, este menu não tem nada de santo. Assim como o teu comentário que está isento de “pecados”, ou seja, impecável!

    Sócio, o garfo não dava tchau. Ele dizia: venham !! rsrs

    Abs “freiternais” pra todos

  5. Uai, Eymard, “suaorigem” é “suaorigem”!
    Não é a minha nem a tua, é a “suaorigem” dele ou dela. Entendeu?

  6. Sócio, esta “suaorigem” sou eu. E não me pergunte o porque. Simplesmente apareceu no lugar do meu nome! 🙂

    Abs originais.

  7. Misture o acucar com 1 2 copo de agua junte cravo canela e faca uma calda deixando ferver por 10 minutos …Pate de Talos de Legumes..2 colheres de talos de beterraba e de espinafre.1 copo de ricota ou maionese.Sal e pimenta a gosto..Bata tudo no liquidificador.

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