Início » Arquivos » dcpv – da cachaça pro vinho – charlô, of course

dcpv – da cachaça pro vinho – charlô, of course

número 304
dia 04/10/2011

Charlô, of course.

Me responda uma coisa: comida tem idade? Você acha alguma receita muito datada?

Pois foi dando uma “geral” na minha biblioteca gastronômica da casa da praia que me veio esta dúvida.

Estava eu limpando tudo (ordens da coordenadora) e até liberando algumas coisas, quando me deparei com o livro Charlô, of course (editora DBAM).

É um livro modernoso (na medida do possível), com um projeto gráfico bem bacana, fotos legais, prefácio (excelente, como sempre) da Nina Horta e receitas. Muitas receitas.

Detalhe: ele foi editado em 1996. São 16 anos, o que hoje em dia pode significar uma eternidade.

É claro que eu li toda a história do Charlô Whately com “causos” muito bons e muitos detalhes sobre como o interesse gastronômico floresceu na vida dele.

O menu surgiu justamente da dúvida sobre a perenidade das receitas. Resistiriam a uma opinião “abalizada” como a nossa? 🙂

Veremos.

Bebidinha – Vodka Absolut.

Entradas – Salpicão de maçã e salsão/ Salada de espinafre com morangos.

Falar que salpicão tem muita idade parece até redundância. Levante a mão quem nunca comeu um belo exemplar deles nas priscas eras?
Este, por exemplo, foi feito com 2 xícaras de maçã picada, 1 xícara de salsão, 1/4 de xícara de pimentão vermelho, 1/2 xícara de cenoura ralada e 1/2 xícara de molho rosé (2 colheres sopa de catchup, 1 colher sopa de mostarda, 1 colher sopa de limão, molho inglês a gosto, 200g de maionese).

É só misturar tudo e levar à geladeira.
Quanto a salada, basta fazer um molho com 1/2 xícara de açúcar, 2 colheres de chá com mostarda em pó, 2/3 xícara de vinagre, 1 cebola pequena picada, 2 xícaras de óleo, sal e pimenta do reino, batendo tudo no liquidificador (é, naquela época se usava muito este eletrodoméstico) …

… e acrescentar 3 colheres de sopa de sementes de papoula (naqueles tempos, elas não eram proibidas).

Coloque um maço de espinafre, 1 xícara de uvas verdes sem sementes e cortadas ao meio, 2 laranjas em gomos, 1 xícara de morangos, 2 kiwis fatiados, 100 g de amêndoas num bowl …

,,, e tempere com o molho.

Formou-se uma beleza refrescante …

… e nos mostrou que comida é como saudade.

Não tem idade! 🙂

Pra melhorar tomamos um vinho branco grego (não estamos falando em antiguidade?) Cuvée Prestige Skouras 2010 que foi “inacreditável, pontalete, aquoso, deaginoso“.

Principal – Jamboinneau de frango com funghi e Macarrão em rodelas.

Me fala se a palavra Jamboinneau não lembra realmente alguma coisa bem antiga?
Pois esta receita surpreende tanto pela simplicidade de execução, quanto e principalmente, pelo resultado final.

É muito saboroso e até mesmo estes frangos sem graça que andamos comendo (não parece que são alimentados por isopor?) se transformam em carne branca bem temperada e com a pele muito crocante.

Pra preparar o frango, tempere coxas e sobrecoxas desossadas com pimenta do reino e sal.

Rechei-as com funghi seco hidratado, cebola e pimentão vermelho picados.

Coloque numa assadeira (amarrei com linha) untada com óleo e asse em forno pré-aquecido a 180ºC por ~40 min até que a pele fique bem dourada.

Pro molho, refogue cebola picada em manteiga. Junte funghi seco desidratado (eu também coloquei cogumelos Paris porque tinha pouco funghi) e creme de leite fresco. Deixer ferver em fogo baixo por 10 minutos.

Pra servir, o Charlô pede pra retirar a pele do frango. É que claro que me insurgi e deixei, porque ela estava muito crocante e praticamente torresmenta.

Já o macarrão em rodelas também é bastante curioso.

Você cozinha 500 g de cabelo-de-anjo em 1 litro de leite com 1 cebola e 2 tomates sem pele e sem sementes picados até formar um creme grosso.

Coloca numa assadeira untada e deixa esfriar. Leva à geladeira por 1 hora. Recorta em rodelas (eu não quis perder nada e recortei em quadrados) e coloca numa travessa refratária.

Salpique presunto (usei mortadela italiana), queijo parmesão ralado e cubra com creme de leite fresco.

Leve ao forno com fogo médio (180ºC) por 15 minutos.

Perceba se este prato tem data?

Ficou muito bom e até o feedback dos marmitex foi altamente positivo (fonte : D Anina, D Vera e Sr Antonio).

Continuamos na Grécia, tomando um tinto Sant George Aghiorghitiko Nemea 2008 que foi “massácido, centenário, água vermelha, noblesse” segundo os antiquários, nós mesmos.

Sobremesa – Mangas marinadas com hortelã e cassis.

Preciso encontrar outra palavra além de simples pra descrever esta sobremesa.

Porque descascar uma manga, cortá-la em fatias, deixar de molho em licor de cassis e …

… servir com hortelã cortada finamente é mais que simples, né?

Mas é muito saborosa.

Esta é pra fazer constantemente em casa.

Sorvemos mais um pouquinho do legítimo Creme de Cassis da Provence com bastante gelo …

… e decidimos que o jantar foi:

Comida não tem idade. Simplesmente nova. (Edu)
Sixteen’s is also delicious. (Deo)
Comida desertante. Perfeição da juventude. (Mingão)

A comida é realmente um pouquinho mais pesada que o normal mas, ao mesmo tempo, é bastante saborosa.

“A comida, atualmente, se distancia tanto de sua história, dos seus lugares, dos seus rituais, justamente do que a faz importante. Mas não para o Charlô, para ele, não. Fico encantada com a sua consciência de passado e de família, o respeito as raízes, a todos os que vieram antes” (Nina Horta).

Adoramos tudo e certamente faria este menu novamente.
Acredito que ficou claro que comida boa não tem idade. c.q.d.

Bye.

.

Assinar blog por e-mail

Digite seu endereço de e-mail para assinar este blog e receber notificações de novas publicações por e-mail.

Há 4 comentários

  1. Jovem Edu,

    Comida medíocre a gente esquece logo, comida ruim a gente só lembra para evitar a reincidência, mas comida boa é eterna. Que um exemplo: Marco Polo toruxe o marcarrão da China para a Itália no século XIII. Alguém acha que “la pasta” ficou obsoleta?
    Abraços intemporais,
    Dodô

  2. Comida boa não tem idade, embora às vezes se esmaeça um pouco da memória… Confesso que aaaamo um salpicão, e todo Natal rola um com frango defumado aqui em casa – o que muda é que vamos alterando os ingredientes ano a ano, ora para dar mais leveza, ora mais para sustância…

    Abraços e um ano de muita Luz para vcs!!! 😉

  3. Sem duvida nenhuma! E o velho livro da Dona Benta? E as receitas da Palmirinha? Da Ofélia? Nas minhas férias de criança ia para Sao Paulo, na casa de uma das minhas tias, e lá, a tarde, ela nao perdia o programa da Ofélia. Tao paulistano! Receitas eternas.

  4. Dodô, gratíssimo pelo “jovem”.
    E a analogia com a massa caiu bem, como um bom strogonoff! 🙂

    Marcia, concordo com tudo e que o ano de vocês tenha muita “magia”! rs

    Sócio, boas as referências. Até a “pobremática” da Palmirinha! 🙂
    Abs “old fashion” pra todos.

Dê a sua opinião, please!