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nina horta – a moda te faz mudar?

número 270
21/09/10

Nina Horta – A moda te faz mudar?

Todo mundo sabe quem é a Nina Horta. Ela escreve bem demais e dificilmente você será o mesmo e/ou ficará indiferente após ler algum texto dela.
Ah! Ela também é sócia do ótimo Buffet Ginger.

Nós aqui em casa a acompanhamos regularmente (somos assinantes da Folha) e toda quinta-feira é praxe lermos e conversarmos sobre o que ela escreveu na coluna dela. Os assuntos são os mais diversos (livros, ingredientes, bichos, sentimentos, cultura, memórias, etc), mas sempre com alguma conotação gastronômica.

Já cansei de pensar em menus que seriam baseados em cada um dos textos (inclusive, já fiz um ). Cansei também de pedir receitas (através de e-mails), mas ela tem uma teoria de que as receitas existem para serem feitas do jeito que a pessoa gosta, sem muitas medidas.

Portanto, seguindo este preceito, acabei escolhendo receitas que encaixassem com este texto inédito dela (sim, ela me enviou também por email).

Vejam se gostam e opinem ao final dele, acrescentando algumas coisas que vocês gostam/gostavam e que saíram de moda!

Vamos lá!

Atenção – Para ler o texto completamente e sem interrupções, siga o que está escrito em azul.

Coisa espantosa. Até outro dia, não podíamos passar sem nossa  dose de uísque antes do jantar. Era a coisa mais comum do mundo e era uísque mesmo, de verdade. Alguns começaram a gostar de vodca, mas era uma porcentagem pequena. O vinho tem a vantagem de  poder ser bebido e intelectualizado. 

Começamos fazendo o básico: uma bela caipirinha de limão com Absolut Vanilia, a vodka! 

Chegou devagarzinho, com degustações, crônicas nos jornais, revistas, livros, harmonizações, viagens enológicas e de repente, tomou conta. Ficou chique entender de vinhos e chacoalhar o copo como se fôssemos fazer um chantilly!
Vamos e venhamos, o vinho tem muita história, muito para ensinar, uma coisa sem fim. É bonito. E um costume que não era nosso fincou pé.
E os copos? Sempre os tivemos a vida inteira, mas agora não serviam mais. Há um copo para cada tipo de vinho e infelizmente custam os olhos da cara. Uso os meus velhos com a maior cara de pau. Fazer o quê? Se bem que as mesas ficam muito mais bonitas com os copos de vários tamanhos e cores. Subversão de vez em quando é a solução.

Tomamos dois vinhos nesta noite:
1 – O branco Reguengos 2008 Alentejo (amargo, amaro, DOC – do Orlando compadre, sr Houdine)

2 – O tinto Tempranillo Vega Ibor 2004 (europeu, sopave, barricoso, ajeitadinho)

Costumo achar que aqueles que pararam de tomar o uísque são uns traidores de marca maior. Que tomem pelo menos os dois. Não dá para dispensar o amado só porque apareceu outro em cena cheio de novidades, narizes dentro da taça e cheiros de beterraba com goiaba. Sem contar as frutas vermelhas e o couro. Meu Deus! Donde vem esse couro?
Resolvi limpar um armário, ou melhor, tentar ver se conseguia algum lugar. Síndrome de vida longa e pouco armário. Dei com as panelinhas de fondue. Duas. O formato bem diferente, os espetos, tudo muito interessante.
Será que ainda enfrentamos um fondue? Mesmo com frio, o queijo com pão engorda demais, com carne… huumm…
Deixei de lado para pensar mais um pouco, só que garanto que os dias de fondue passaram.

Como entrada, resolvi radicalizar e utilizar duas receitas feitas pela minha sogra, a D. Vera e uma pela nossa colaboradora, a Flora.
As da D. Vera foram: charutinhos de repolho (lembra?) que eu dei uma incrementada com um molho à base de iogurte, creme de leite fresco, curry e azeite.

Ao esquentá-los, optei por grelhá-los bastante numa frigideira.

Ficaram caramelizados e muito crocantes.

A segunda, pimentões recheados com carne moída (lembra?). Fiz o mesmo que os charutinhos.

Só que neste caso, o molho foi composto de ervas, azeite, mel, vinagre de maçã, pimenta rosa e parmesão em lascas.

Dona Martha Kardos que ensinou mais de uma geração a cozinhar não deixava que perdêssemos a primeira aula onde ela ensinava a fazer um roux como manda o figurino. Se a pessoa não pudesse comparecer à primeira aula, a de molho branco, perdia o ano inteiro porque era uma aula básica. Dramatizada por ela e com mais uma gotinha de limão, inclinava a cabeça para o lado, provava, juntava uma pitadinha de açúcar, um pouco de noz moscada e para não empelotar aprendíamos a usar o batedor, o whisk (lembra dele?), numa velocidade alucinante nos primeiros minutos. Musculação pura!

Já a da Flora é um dos clássicos aqui de casa. 7 grãos cozidos al dente e muito bem temperados.

Delícia!

E o prato todo também arrancou suspiros dos presentes.

Comida de sustância!

Claro, não dá para matar o molho branco, mas desertou de muitos  pratos, de quase todos e quando aparece deixaria Martha muito irritada e triste, com gosto de cru, de maisena ou de farinha. Insosso.

Como principal, optei por mais especialidades “florísticas”.

Bife à milanesa, …

… creme de espinafre e …

… um tremendo arroz à grega.

Prato das antigas, fora de moda e espetacular!

E somos mesmo muito infiéis. Nunca pensei que um dia deixaria de escrever cartas. Cheguei a ser vítima de zombarias. Diziam: parece Freud; o último que escreveu cartas antes de você foi Freud.
Realmente, achava impossível dar pêsames por email. Pois já dou. Fico me achando aparvalhada se pegar uma caneta, encher de tinta, escrever três  páginas e o pior é pegar o carro, ir ao Correio, lamber os selos… Muita loucura e lábios colados.
Quando compro alguma coisa na Ebay inglesa geralmente recebo uma carta perfumada de alguma velhinha, de um condado perdido, com aquela letra bonita e típica, pedindo que eu tome conta com carinho da mercadoria dela, etc e tal. Até desconfio, imagino um inglesão bigodudo se fingindo de velhinha para me enganar e fazer com que meu coração me obrigue a comprar naquele lugar
.

Sobremesa – A Dé entrou em ação. Uma fantástica torta de limão.

Cremosa e flutuava dentro da boca!

Não precisa nem dizer que acompanhamos com um anisete da D Anina. Afinal de contas, era uma noite de clássicos.

No outro dia um cliente do buffet  pediu um coquetel para mil pessoas.
Pensei em esquecer esta história de coquetel enorme. Está frio, a premiação acaba bem tarde, quem sabe não prefeririam uma boa canja com pão quente e só? O quê? Quase perdi o cliente, achou que eu tinha  enlouquecido de um ano para o outro.
E parece que tinha razão, porque  de teimosa incluí no cardápio uma sopinha de caneca que foi majestosamente ignorada. Esqueceram da canja.
Nem ligo muito porque também não gosto, nunca achei graça em canja, mas cautela e ela …
Nina Horta.

Pronto!

Noite terminada. E sinceramente as coisas podem entrar e sair de moda, mas as boas e as principalmente com boas lembranças, permanecerão por séculos. Cabe a nós preservarmos estes costumes e neste caso, comê-las sempre!

Eis a opinião dos eternos saudosistas (alguém pode me dizer porque o dadinho de amendoim diminuiu de tamanho? E a paçoquinha? E o Chicabon? E porque mexeram no sabor da Coca?):
Esquecemos da farofa da D Anina. E do bolinho de arroz da Dé. E da escabeche da D Vera. E da … (Edu)
Básico, sustancioso e perfeito. (Mingao)
To esperando as “fartura” que “fartaram” hoje, mas as 
que vieram, deram conta. (Déo) 

Inté !

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Há 10 comentários

  1. Parabéns pelo menu tão trivial e tão sensacional!
    Também sou adepto da boa comida simples! Porque não é que é simples que não pode ser de ótima qualidade…
    Abraço

  2. Simone, pode deixar que eu vou pegar a receita com a Dé e te passo.

    Igor, você pegou o espírito da coisa. A comida tem que ter um belo nome e sobrenome.

    Sabrina, pelo visto teremos que gravar alguma reunião e colocar no You Tube. São risadas e abobrinhas em profusão.

    Abs retrôs pra todos.

  3. O que me faz mais confusão é mesmo as pessoas deixarem de escrever cartas, não há nada mais bonito do que escrever cartas 🙂 E não vale serem escritas no computador, impressas e depois enviadas pelo correio. Têm mesmo que ser manuscritas, nem que não se entenda a letra de quem escreve 🙂 Há todo um encanto, assim como há nas comidas que dizem ter passado de moda… há o sabor da infância e da felicidade!

  4. Edu, foi você quem pediu :- )

    Podemos pensar naquilo que sai da moda por meio de diferentes olhares. A mídia certamente nos aponta o que é moda, nas roupas, por exemplo. Ou para onde é moda viajar, onde é moda comer, qual é o carro da moda. As tecnologias, de alguma forma, também contribuem para que algumas coisas deixem de ser moda, em nome da modernidade.

    Não consigo percorrer o itinerário de minhas lembranças sem me deixar levar para os dias com os irmãos e primos no sítio. Não acredito que com tantos filtros e produtos seja moda lavar a piscina vazia, com sabão e escova, mas isso fazia parte de nossas férias. Brincávamos enquanto a piscina esvaziava e começávamos a limpeza quando a água atingia a altura de nossos joelhos. Ao acordar, a primeira coisa a se fazer era conferir se a piscina estava cheia. Começava então a “briga” pela bóia de câmara de pneu “com o pino para fora”, totalmente fora de moda, hoje em dia. As viagens, primeiro em Rural e depois em C14, não deveriam ser lá muito confortáveis, mas eram divertidas. Brincávamos de “A palavra é”. Quase sempre, “A Praça”, de Ronnie Von, e “A Banda”, de Chico Buarque animavam a longa viagem de uma hora.

    Em época de internet e foto digital, decalque não é moda! Mas como adorava aquele pirex com água, a folha colorida com flores e bichos, o pano limpinho para secar. Além dos decalques, adorava os cadernos de desenhocop, com figuras para ilustrar os trabalhos de escola, feitos em papel almaço, com letra bem caprichada.

    Alguns já sabem que cheguei até aqui por causa de um cartão postal. Pode não ser moda, culpa de novo da internet – e não é mesmo, concordo com a Nina Horta – mas como deixar de escrever cartões e cartas? Tenho em casa papel de seda pautado e envelopes verde-amarelos. Se pudesse, passava o dia escrevendo para os amigos. A parte de ir aos Correios é mesmo chata… Vou, então, aos Correios do shopping… Mas aqui em BH já foi moda comprar roupa na rua Espírito Santo.

    Fazer os docinhos da própria festa não é moda e dá um enorme trabalho. As trufas e os macarrones são deliciosos, mas como abrir mão de assentarmos todas – minha mãe e minha irmãs – em volta da mesa para abrir forminha, enrolar brigadeiro, cajuzinho, chapéu de Napoleão e olho-de-sogra? Ah, claro, e contar casos… muitos casos…

    Às vezes deixamos de seguir a moda, porque aquilo que era moda deixa de existir. Alguém sabe onde fazer, hoje em dia, aqueles monóculos de fotos? Até hoje, para ver os que tenho em casa, preciso da ajuda de uma das mãos para fechar o outro olho. Mas era moda voltar das férias na praia com os monóculos de foto, sempre tirados com o mar ao fundo. Mas não deixo de fazer ou usar o que gosto por ter saído de moda. Tenho em uma estante na sala de minha casa uma daquelas galinhas de vidro, com tampa, rosa, porque fazia parte da coleção de uma tia muito querida e todo dia, ao entrar e sair de casa, lembro-me de como passamos momentos felizes juntas.

    E com relação às comidas e bebidas, talvez eu seja uma das mais fora de moda desse DCPV… Não bebo vinho e nem sei como classificá-los. Adoro arroz de forno, arroz à grega, bife à milanesa e maionese de batata. Para mim, esses pratos estariam, eternamente, nos menus dos jantares dos casamentos.

  5. Edu,

    texto da Nina Horta? Exclusivo para o DCPV? Uma honra. Uma honraria!
    A gente passa dos 40(?) e começa a pensar no que ficou fora de moda. Vamos acumulando lembranças? E sofisticando o gosto. Mas dai percebemos que o gosto daquela maria mole da padaria….era bom demais! Que a canja, aquela para esquentar o corpo e a alma, continua sendo o prato noturno predileto (que chato essa gente que nunca experimentou uma canjinha); que o uisque, sim, o uisque nao saiu de moda la em casa (e nem na casa da Beth e do Dodo); que mandar carta é coisa para poucos (Adriana sobreviveu).
    Ate a torta de limao parece que ficou fora de moda depois que globalizaram a holandesa ou o petit gateau. Mas eu adoro torta de limao (essa da De me abriu o apetite).
    Agora, fora de moda mesmo, é comer miolo de vaca empanado; lingua ao molho; suan (sempre com a brincadeirinha do meu tio de que “comer suan faz suar”); miolo de galinha para ficar inteligente; docinho de queijo em compota e o bolinho de natal com mel. Chamavamos de cipola! Hum, to louco para comer uma canjinha, viu dona Nina?
    Parabens, este post foi demais!

  6. EDU,

    Esse post foi covardia! Bom demais!
    Que delícia o texto da Nina, onde só não concordo com o final. Afinal, sou tarada por uma canja. Aqui em casa ela nunca saiu de moda e basta fazer um friozinho, ou o Jorge dar um espirro, que já entra a dita cuja no cardápio do dia.
    O uísque já foi minha bebida predileta, mas ando mais contida com a bebida, que não me faz bem e só tomo uísque puro, do bom. Vinho, preferimos o branco, bem geladinho. Só no gosto mesmo, porque entendimento é nenhum.
    Adorei a sua leitura gastronômica para a crônica. Sou louca por um arroz à grega, mas ele não era frequente aqui em casa, porque as crianças nunca gostaram. Às vezes fazia só para mim e o Jorge, que come até pedra, estando bem tratadinha e manuseada com carinho e higiene.
    Quando vi o bife à milanesa pensei logo na Adri. Mas sempre gostei de bife à milanesa com purê de batatas, arroz branquinho e feijão preto, bem temperadinho e caldaloso.
    No seu cardápio só tem uma coisa que não gosto: pimentão recheado, que normalmente é o verde e ele nem entra aqui na cozinha de casa. Uso sempre pimentão, sem a casca, mas o vermelho e o amarelo, e agora também o irmãozinho laranja, são mais leves.
    Torta de limão?????????????? Sou louca por torta de limão. Tenho duas receitas fantásticas e bem diferentes uma da outra.
    Cartas. Lembro-me bem como as escrevia e como vi minha escrevê-las. Viemos para Brasília e deixamos toda a família para trás, minha mãe tinha quatro irmãs e manteve correspondência frequente com elas por muitos anos. Até hoje tenho uma prima que escreve para ela e lhe manda fotos pelo correio. Mamãe nunca esteve na moda, nunca usou internet.
    Esse é um tema que daria para ficar escrevendo durante horas. E eu não vou querer quebrar o meu próprio record.
    Mas uma coisa totalmente fora de moda e que fez parte da minha infância é o suco de groselha.
    Adri, como era gostoso ajudar a enrolar docinhos para festa! E um que me marcou muito e nunca mais vi em festinhas, era o doce de cenoura com suco de laranja.

  7. Ameixa, também sou de cartas.Tanto que ainda tenho o prazer de escrever um montão de coisas com canetas!

    Drix, bóia de Cãmara de pneu? A palavra é? Decalque? Desenhocop (eu já timha esquecido deste)? Trufas (quais)? Olho de sogra? Bolinha de gude? Pião? Só você mesmo!

    Sócio, estou na fase de dar chance a pessoas com talento e que estejam começando! 🙂
    Maria mole? Canja? Uísque? Torta de limão? Miolo de vaca? Língua? Suan? Miolo de galinha? Trufa?

    Suekli, na verdade você concordo com o texto todo e com a Nina. Discorda das pessoas que não gostam de canja, né não?
    Quanto ao pimentão, ele é adorado aqui em casa. Em todas as cores e até cru!
    Groselha? Tomo até hoje.

    Abs trufados a todos.

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